domingo, 20 de março de 2011

Peregrinação aos Lugares Santos - HIC

Estes dias de peregrinação à Terra Santa foram de uma vivência tão profunda com Deus, que me é difícil encontrar palavras para os descrever.

Desde que fui desafiada a participar, os caminhos de Deus foram claros e precisos. Vejo agora que esses caminhos começaram há muitos anos, quando lia o que o Rui escrevia no Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus. A sua espiritualidade transbordante tocava-me profundamente.
Não foi por acaso que os meus passos cruzaram os do Rui e os do Senhor Padre Dário, a quem também conheço do Mensageiro e dos livros que tenho lido. Foi um chamamento claro a peregrinar, e Deus a tudo providenciou.

Preparei-me espiritualmente e parti com o coração cheio de uma ânsia imensa de conhecer melhor Jesus, de me abrir mais a Ele, de me aproximar mais d´Ele seguindo os Seus passos.
Desde Nazaré até Emaús, foi num crescendo de maravilhas e num crescendo interior que fui vivendo. Nestes oito dias na Terra Santa, vivi trinta anos de paz na Galileia e três anos de intensidade e dor em Jerusalém.
Galileia, Terra Santa, Terra de Jesus!
“Senhor, é bom estar aqui” e com São Pedro eu repeti esta frase mil vezes e fui “construindo tendas” no meu coração, para estar mais perto, para estar com Ele.
“Que bom é estar aqui”, viver onde Ele viveu, pisar o que Ele pisou, ver o que Ele viu e ouvir o que Ele nos disse, o que Ele nos diz. Tudo à nossa volta nos fala de Jesus, o céu, o mar, aquela terra cheia de pedras, os pássaros e a mais pequena flor. O nosso coração sente a Sua presença e ouve a Sua voz, e serena numa paz imensa!
Depois, meditar e interiorizar tudo o que estava a viver, naquela inesquecível hora passada no deserto! Que silêncio! Só eu, entre a terra e o céu, “Que bom é estar aqui”!
Então, com todos os peregrinos que há milhares de anos fazem o caminho para a “casa de Deus”, eu subi a Jerusalém “cheia de alegria, e os meus passos detiveram-se às suas portas”. Então chorei, chorei copiosamente.
Chorei de alegria, pela imensa graça recebida de poder estar ali, chorei de dor por tudo o que naquele lugar se passou. Não é possível não chorar! São milhares de anos de história, de alegrias e dores, de que a minha vida faz parte. Eu estive sempre presente desde toda a eternidade no pensamento de Deus, que ali se entregou, sofreu e morreu por mim.
Foram dias intensos de alegria, louvor e dor os que vivi em Jerusalém. De alegria e louvor em Belém, naquela gruta humilde onde Jesus quis nascer, onde Deus infinitamente “Santo, forte e imortal” se fez um de nós para nos salvar! De alegria e louvor na subida ao Templo, “à casa do Pai”, vendo Maria com Jesus ao colo e José com as rolas na mão, vendo a humildade daquela família e a grandeza incomensurável daquele lugar! Como não haviam de perder um dia o Menino no Templo?!
Oh lugar Santo! Oh lugar Bendito! Oh mistério insondável de Deus que fez de nós Seu Templo, pela graça do baptismo! A infinita grandeza de Deus habita agora a nossa pequenez. Agora, somos nós o Seu Templo! Deus quis ficar connosco para sempre, verdadeiramente como está no céu, mas transfigurado no pão que comungamos. Como diz o Papa “ a comunhão é realmente um encontro entre duas pessoas, é um deixar-se penetrar pela vida d’Aquele que é o Senhor, d’Aquele que é o meu Criador e Redentor”.
Hora de alegria e louvor, aquela do Cenáculo, hora de sofrimento e dor no Jardim das Oliveiras! Dor, dor intensa, pelas vezes que adormeci, que adormeço, que O esqueço, que não sou capaz de lhe fazer companhia.

Horas de sofrimento e dor, dor imensa na Via-Sacra e no Calvário. Aquela hora no Calvário, junto à cruz, ajoelhada ao lado da Isabel como as mulheres de Jerusalém, não há palavras que a descrevam. A comoção era imensa, e banhada em lágrimas gritava dentro de mim, “Meu Deus, meu Deus, não sou digna de estar aqui …mas, eu faço parte do que aqui se passou há dois mil anos, foi por mim que Vos entregastes, que oferecestes a Vossa vida… meu Deus, meu Deus, eu não sou digna de tanto amor! Oh sangue e água, que brotastes do Coração de Jesus como fonte de Misericórdia, inundai-me, eu tenho confiança em Vós!
Ali permaneci banhada em lágrimas, tentando viver no meu coração tudo o que ali aconteceu. Hora de sofrimento e dor, mas hora bendita! Comoveu-me imenso encontrar aquela imagem belíssima de Nossa Senhora das Dores, ao lado do Calvário, oferecida por Portugal e com as armas reais no esplendor. Comoveu-me por ter sentido nesse encontro um carinho especial de Nossa Senhora, a quem há tantos anos rezamos todos os dias em família, sete Ave-Marias pelas Suas dores.
E depois correr com a Isabel para aquele Túmulo, com Pedro e João, com todos aqueles que há dois mil anos acorrem ali, atropelando-se, cantando mais alto uns do que os outros, lutando e abafando-se, construindo e voltando a construir, para chegarem e verem o que eu vi, “não está aqui, ressuscitou, não é vã a nossa fé”!
Aquele Jesus que vimos ser anunciado em Nazaré, e com quem convivemos estes dias, ressuscitou para que ressuscitemos com Ele. E a força desta verdade é tão grande, tão incomensurável que abala tudo e tudo transforma.
Foi para esta certeza que vivemos estes dias, foi para Ele, para Jesus, que o Senhor Padre Dário e o Rui nos abriram o coração. Como diz o Rui, esta vivência da Terra Santa” muda tudo, mudou tudo em mim”.

O meu coração regressou como o dos discípulos de Emaús, a “arder com as coisas que Ele nos dizia”, mas também lá ficou naquelas colinas, naquele mar, naquele deserto, debaixo daquele céu, e para sempre naquele túmulo, sobre aquela pedra gelada de estar vazia, na certeza de que a graça da Sua cruz nos ressuscitará para a vida eterna.
Não mais se pode ser o mesmo depois de se percorrer os Lugares Santos. Muda tudo, mudou tudo em mim.
Agora posso cantar, com o coração comovido como o salmista “Se de ti me não lembrar, Jerusalém, fique presa a minha língua”.

Maria Emília de Azeredo Barata de Tovar
Casa da Igreja, 15 de Março de 2011

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