quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vem e Segue-Me






Peregrinação a Jerusalém
Quarta-feira da Semana Santa,
20 de Abril de 2011




VEM e SEGUE-ME

Há três anos que decidi ir ao encontro do meu Senhor em Jerusalém.
Sonho? Mais do que isso. Desejo, vontade de me encontrar mais profundamente com JESUS CRISTO: perceber melhor o Seu encanto, o Seu Amor por nós e segui-Lo no mistério total do Seu SIM à vontade do Pai, da Sua completa doação por nós, escondido na Eucaristia mas tão presente quando Lhe abrimos o coração, suplicando que Ele nos transforme para vivermos o dia-a-dia com a força que nos imprime, qual sol que nos aquece e fortifica.
Louvado sejas Senhor, por tudo o que nos acontece nos momentos em que Te amamos à séria: ficamos diferentes… Tu sabes tudo, Tu conheces as nossas fraquezas, omissões, negligências, mas… sabes fazer-nos voar quando Te seguimos, quando Te escutamos, quando Te olhamos em silêncio, quando conversamos conTigo, quando… quando …
E… quando chega o momento, tudo acontece tão facilmente! É a surpresa da Tua naturalidade, da Tua espera oportuna para nos chamar: VEM e SEGUE-ME!
Concretizou-se.


Os dias que passei na Terra Santa marcaram-me profundamente.
O estar “ali” naquela hora de adoração, na Igreja da Agonia, onde Tu, Senhor, rezaste ao Pai, num sofrimento total de corpo e espírito. Nesta hora mostraste o mistério da Tua verdadeira humanidade. A Tua angústia era tão grande que até suaste sangue!... Tomaste sobre Ti todos os pecados dos homens com pleno conhecimento da tristeza que provocam a Deus. Só a oração ao Pai e as consolações do Santo Espírito Te deram coragem para fazer da vontade do Pai a Tua vontade.


A liberdade da entrega da Tua vida, com conhecimento total dos terríveis flagelos que ias suportar, é um mistério que está inscrito na história da nossa salvação: Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu único Filho, para que todo o que crer n’Ele não pereça mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 16)

Como Te custou que os onze não rezassem contigo ao Pai para não caírem em tentação … nem sequer Pedro, Tiago e João a quem pediste particularmente para o fazerem. E… insististe 2ª e 3ª vez…, mas eles estavam exaustos: aquela tarde fora repleta de surpresas, emoções e revelações ainda incompreensíveis (a humildade e doação de Cristo no lava-pés, gesto que manifestava a submissão do escravo ao seu mestre; o conhecimento de que Jesus ia ser entregue por um deles: Jesus não acusa Judas, lastima-o e deixa que seja ele próprio a confessar a sua traição; o que significa «Isto é o Meu corpo que será entregue por vós», «este cálice é a Nova Aliança no Meu sangue» ; «depois de ressuscitar preceder-vos-ei a caminho da Galileia»…). Eram aqueles três que Te tinham seguido no Monte da Transfiguração, participado no momento extraordinário e divino de escutar a voz do Pai proclamando da nuvem «Este é o Meu Filho muito amado…» e maravilhados pretenderam logo transformar aquele instante em eternidade.


Com que Amor divino os abraçaste a todos e continuaste a conformar a Tua vontade com a do Pai. A Tua vontade deliberada e totalmente consciente, fortalecida pelo Espírito, transforma a grandeza do sofrimento e o Teu rosto não tem a expressão de alguém derrotado pelo mal que O atinge nem pela vergonha da Sua impotência porque é firme a Tua confiança no AMOR fiel e infinitamente misericordioso do Pai.


JESUS CRISTO é o Senhor! Ele é Verdadeiramente o Filho de Deus! Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem!
É Ele que nos bate constantemente à porta e nos chama: VEM e SEGUE-ME.
É Ele, crucificado pelas nossas paixões e medos, ressuscitado pelo Amor terno, redentor e infinito do Pai, que faz arder os nossos corações e nos acompanha, consola e desafia nos acontecimentos concretos da nossa vida tal como fez com os discípulos que seguiam a caminho de Emaús.
O Espírito Santo que tudo penetra nos dê a Graça da confiança e a liberdade interior que nos possibilitem ir caminhando no Mistério de um Amor que não tem medida humana.
Que, por intercessão de Maria, O meu Senhor dissipe as trevas que ainda me envolvem para caminhar com ELE para a Luz.


Que a Santíssima Trindade continue a inspirar o Padre Dário e o Rui na sua missão de transmitir com tão grande convicção a maravilha que é o quinto Evangelho. Bem hajam!
Que a todos que, unidos no mesmo espírito, vivenciámos momentos tão belos e verdadeiros nos seja dada a consolação de ir testemunhando a Alegria de Amar a Deus sobre todas as coisas e uns aos outros como Ele nos amou.


Uma SANTA PÁSCOA.


MARIETA PINTO SEIXAS DA FONSECA

domingo, 27 de março de 2011

A minha alma glorifica o Senhor


«A minha alma glorifica o Senhor,

porque pôs os olhos na humildade da Sua serva»

Lc 1, 46-48

Não sei como começar!..
Eu, que em tempos fui tão dada à escrita, hoje em dia não consigo juntar duas palavras, mas acho que vale a pena o exercício. Há demasiada coisa cá dentro e é pouca a coragem para trazer todas as peças ao de cima, arregaçar as mangas e montar o puzzle. Vou tentar começar, mas não prometo nada. Sou uma agraciada pela imensa ternura de Jesus! Entre outras muitas coisas fantásticas que Ele tem feito comigo ao longo destes 22 anos, em ano e meio o bom Jesus levou-me por duas vezes até à Sua terra, àqueles lugares que seguramente têm um lugar muito especial no Seu coração, como têm para qualquer um de nós a casa materna, a nossa terra, os lugares que nos viram crescer, que nos recordam quem somos, de onde viemos, a matéria de que estamos feitos, como nos fizemos o que somos hoje.

Quando fui pela primeira vez a Israel, em setembro de 2009, fui com aquela sensação que tivemos todos alguma vez, em pequenos, ao receber aquele convite inesperado de um amigo que até nem era o melhor amigo, para ir lanchar a casa dele ou às vezes até ficar para dormir! – era o passo determinante para que aquele rapazinho ou rapariguinha fosse, a partir dali, o nosso melhor amigo! A partir dali criava-se uma intimidade que não tínhamos com mais ninguém e falávamos de coisas que mais ninguém compreendia, não podiam, não tinham estado lá, não viveram o que só nós tínhamos vivido naquele tempo juntos, só os dois.

Esta imagem comoveu-me em 2009 e agora esmaga-me ainda mais o facto de que Jesus, Deus do Universo, Senhor dos Céus e da Terra, o que venceu a morte, o que me salvou da miséria do pecado e me abriu as portas para uma Vida Nova, vem ao meu encontro, me convida para casa d’Ele, me quer mais perto, quer que conheça a intimidade da Sua casa, a Sua família, os lugares que ama e que O viram crescer. Jesus dá-Se a todo este trabalho (depois de tudo o que já fez!!) para que eu me digne olhá-l’O e Lhe abra as portas para essa intimidade para a qual fui feita, a única que me pode fazer feliz.

De facto, há Hics que são demasiado grandes para um coração pequenino como o meu, não cabe, não consigo apreciá-lo para além do esmagamento e da imensidão do seu significado. Mas entrego, porque é o que tenho, e, amorosamente, é só isso que Ele me pede. Ele fará depois o resto. Se for da Sua vontade, um dia compreenderei, isso tem que me bastar.

Parti de novo para a Terra Santa, tão pouco tempo depois, convencida de que iria reviver, relembrar, trazer de novo à memória e ao coração aquilo que ali tinha vivido em 2009 (e, ainda que com essa expectativa tão reduzida, ia feliz da vida!). Agora imagino que Jesus deve ter dado grandes gargalhadas com esta minha ideia tão pobresinha (‘Tadinha, não tás mesmo nada a ver o filme!...”). Pois é, Ele rapidamente me trocou o passo e, pouco a pouco, fui-me apercebendo que aqueles dias estavam a chegar cá dentro a um lugar que eu não sabia que existia, um lugar imenso que senti ser de Deus mas, ao mesmo tempo, estava algures aqui escondido dentro...!


Naquela semana, Jesus sentou-me num banquinho ao lado da mesa de trabalho d’Ele, vestiu o avental, ligou a roda, arregaçou as mangas e mostrou-me como, calmamente, o Oleiro amassa o barro e o molda com doçura, para que ele venha a ser aquilo que há-de ser.

Na semana seguinte a esta viagem, mal abri a boca, andava num qualquer lugar que era aqui mas não era; senti-me literalmente a regressar de um coma (acho que gostei daquele banquinho e as pernas estavam a fazer-se dificeis, não podiam mas também não queriam levantar-se!). Neste despertar, lento, em vez de voltar triste e saudosa de algo tão bom que tinha passado, dei por mim a acordar feliz!! Queria mesmo estar aqui... Sei que é estranho, pensei nisso muitas vezes, mas Jesus deu-Se ao trabalho de me vir explicar isso também: é que Ele não morreu, está vivo, Ressuscitou!!! O sepulcro está vazio!!! Melhor: Ele está HIC.


Esta foi a minha descoberta nesta viagem, o 5º Evangelho de que falava a Nônô, a vinda a cada dia de Deus ao meu encontro torna a minha vida um HIC, torna-me também a mim Terra Santa, lugar de Encarnação, de Anúncio, de morte e de Ressurreição. Não é uma memória que me alimenta, não é a saudade de sentimentos passados que me move, mas a Presença real de um Deus Vivo, que me chama, me interpela, me desafia a cada dia novo e só me pede que adira a Ele de coração inteiro, ainda que Lhe leve umas mãos cheias de nada. (No fundo o Pe Dário disse-nos isto todos os dias, naquela cristificação de que tanto falava, mas só agora é que vou assimilando, pouco a pouco, a imensidão do seu significado: a minha vocação é, realmente, ser igual a Cristo, com Ele). É por isso que me arde o coração cada vez que Ele vem ao meu encontro no meio do caminho e é por isto que, ainda que não perceba nada, não posso sair de junto daquelas palavras de vida eterna.

Oxalá, um dia, isto possa ser a realidade da vida de cada um de nós!.. Não acredito que cheguei ao fim.... Isto é inédito!! Foi a partilha de algo que ainda estou a descobrir, que ainda me espanta todos os dias, que ainda não acabei de assimilar, mas que foi naqueles dias convosco que começou.

Acabo com um grande OBRIGADO ao Tio Rui e ao Pe Dário, por este empenhamento e insistência em preparar o caminho para que o Senhor possa mudar a vida de quantos sejam chamados e adiram a este convite de ir à Terra de Jesus, de se tornarem Seus amigos íntimos. Obrigado também a todos os que contribuiram para a organização e riqueza destes dias, com não menos ilusión e vontade de preparar verdadeiros encontros priveligiados com o Senhor: Pedro, Sofia e Tia Ana. Obrigado também à Helena e à Geostar.

E um último obrigado a cada um dos que aceitaram este convite de Jesus, por aceitarem e por se terem deixado ser instrumentos tão especiais para que esta minha viagem fosse verdadeira Peregrinação.

Marta de Castro Corrêa d'Oliveira

domingo, 20 de março de 2011

Fez-se “HIC” dentro de mim

Queria dar um "simbólico" testemunho do que foi esta peregrinação á Terra Santa. "Simbólico" porque acho que nunca conseguirei pôr por escrito o que lá vivi e senti, e porque infelizmente não tenho o dom da expressão escrita. Se fosse em números era para mim mais fácil: era só escrever n∞ (n elevado ao infinito). Mesmo as fotografias sabem a pouco. Servem mesmo é para me fazer recordar cada um dos lugares que pisámos.

Deixando as graçolas, a Graça que lá recebi foi imensa, tal como foi a Graça de Deus me ter proporcionado esta hipótese de ir NESTA peregrinação. Tive muitas outras hipóteses, há mais tempo atrás, de ir também com o Rui, mas Ele só agora quis que eu fosse. E agora percebo porquê (como tantas coisas que se passam na nossa vida e que só percebemos mais tarde o porquê delas). Não sei como foram as outras, mas esta foi PERFEITA. Mais uma vez dou graças pelo Mimo que recebi, e agradeço a todos os que a proporcionaram.

A organização - a cronologia perfeita dos sítios por onde passámos, o vivermos passo a passo a vida de Jesus, a oportunidade de estarmos nos locais importantes sem perturbações e com tempo para "ESTAR", para sermos tocados, para rezar e para O poder ouvir, as orações do Pe. Dário e as "achegas" do Rui para nos fazerem meditar cada um dos locais, o complemento da espiritualidade com a história, os encontros tão importantes para arrumar "a casa" depois do "reboliço" interior vivido no dia, etc

O Grupo - eu sou suspeita para falar porque estava no meio de uma família muito grande, mas acho que nos tornámos todos numa grande família. Houve muito boa disposição com as queridas primas Braganças sempre bem-dispostas, não houve atritos, houve tolerância, muita amizade e pontualidade! Todos se deram com todos.

O apoio - do Alex foi espectacular, e a segurança que transmitia (sim, porque todos nós nos sentimos muito mais seguros com ele por perto!); a componente histórica daquele lugar é tão importante para se perceber muita coisa do evangelho e ele foi um mestre. A Helena também, embora não tivesse percebido se ia como peregrina ou profissionalmente, ou as duas.

Acho que é muito difícil dizer o que me marcou mais, porque ao rever tudo, tudo me marcou e tocou muito. Tocou-me primeiro a magia daquele país. Não sei explicar exactamente porquê, mas sente-se no ar. Jerusalém mexeu comigo. Como agora percebo o Rui se ter apaixonado por aquela cidade quando lá foi a primeira vez. Aconteceu-me o mesmo.

Poderia enumerar todos os sítios por onde passamos, como fez a Teresa Marim, porque é difícil dizer quais foram os que me tocaram mais. Mas se tiver mesmo que escolher os mais especiais, foram:
- A igreja da Anunciação e pisar o chão onde a Sagrada Família viveu durante cerca de 30 anos foi o primeiro abanão. Estar ali e viver de forma tão profunda naquela capela o “Sim” de Maria, naquela celebração fantástica, pôs-me logo o coração em alvoroço. A partir daí nunca mais acalmou, o desgraçado do meu coração.
- A missa em Tabgha - Lugar do primado e da multiplicação. “Pedro tu amas-me?” foi mais um momento alto – será que amo Deus de verdade, e O levo comigo sempre no meu dia a dia? Quantas fezes Ele me pergunta se O amo
- O deserto tocou-me bem fundo. Senti-O naquele ventinho inconstante, quer no sopro quer na temperatura, que ora era quente ora era fresca, tal como a minha vida. Como eu gostava de conseguir fazer uma hora de deserto na minha vida todos os dias. Conseguir parar, ouvir e rezar! Fantástico.
- Em Jerusalém, a Hora de Adoração na Igreja da Agonia, foi mais um momento muito especial. Estar no jardim das Oliveiras sem barulho!
- Por fim a missa em Emaus foi mais um "safanão", pelas vezes que não O reconheço quando Está comigo e pela partida que estava próxima. Chorei pela partida que estava próxima. Farei tudo para lá voltar outra vez.

Mas tudo isto só tem valor, se eu fôr capaz de viver a Sua palavra no meu dia-a-dia, de pôr em prática tudo aquilo que ali vivi e de conseguir dar testemunho ao meu próximo. Se não, tudo isto não passa de sentimentalismo “barato” (não muito, por acaso) e de mais um passeio a uma terra linda. E é tão difícil. As intenções são muitas mas a prática.......
Esta liberdade que Ele me dá, obriga-me a estar sempre alerta e sempre consciente de que há tanta coisa para fazer e que não posso relaxar. É tramado! Mas o facto de O sentir juntinho a mim dá-me uma alegria interior TÃO GRANDE que, por um lado não me deixa esquecê-Lo, e por outro dá-me força para "carregar pedras"!
E depois desta peregrinação, uma coisa tenho a certeza: sinto-O cada vez mais perto!

Inês de Castro Corrêa d’Oliveira

Peregrinação aos Lugares Santos - HIC

Estes dias de peregrinação à Terra Santa foram de uma vivência tão profunda com Deus, que me é difícil encontrar palavras para os descrever.

Desde que fui desafiada a participar, os caminhos de Deus foram claros e precisos. Vejo agora que esses caminhos começaram há muitos anos, quando lia o que o Rui escrevia no Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus. A sua espiritualidade transbordante tocava-me profundamente.
Não foi por acaso que os meus passos cruzaram os do Rui e os do Senhor Padre Dário, a quem também conheço do Mensageiro e dos livros que tenho lido. Foi um chamamento claro a peregrinar, e Deus a tudo providenciou.

Preparei-me espiritualmente e parti com o coração cheio de uma ânsia imensa de conhecer melhor Jesus, de me abrir mais a Ele, de me aproximar mais d´Ele seguindo os Seus passos.
Desde Nazaré até Emaús, foi num crescendo de maravilhas e num crescendo interior que fui vivendo. Nestes oito dias na Terra Santa, vivi trinta anos de paz na Galileia e três anos de intensidade e dor em Jerusalém.
Galileia, Terra Santa, Terra de Jesus!
“Senhor, é bom estar aqui” e com São Pedro eu repeti esta frase mil vezes e fui “construindo tendas” no meu coração, para estar mais perto, para estar com Ele.
“Que bom é estar aqui”, viver onde Ele viveu, pisar o que Ele pisou, ver o que Ele viu e ouvir o que Ele nos disse, o que Ele nos diz. Tudo à nossa volta nos fala de Jesus, o céu, o mar, aquela terra cheia de pedras, os pássaros e a mais pequena flor. O nosso coração sente a Sua presença e ouve a Sua voz, e serena numa paz imensa!
Depois, meditar e interiorizar tudo o que estava a viver, naquela inesquecível hora passada no deserto! Que silêncio! Só eu, entre a terra e o céu, “Que bom é estar aqui”!
Então, com todos os peregrinos que há milhares de anos fazem o caminho para a “casa de Deus”, eu subi a Jerusalém “cheia de alegria, e os meus passos detiveram-se às suas portas”. Então chorei, chorei copiosamente.
Chorei de alegria, pela imensa graça recebida de poder estar ali, chorei de dor por tudo o que naquele lugar se passou. Não é possível não chorar! São milhares de anos de história, de alegrias e dores, de que a minha vida faz parte. Eu estive sempre presente desde toda a eternidade no pensamento de Deus, que ali se entregou, sofreu e morreu por mim.
Foram dias intensos de alegria, louvor e dor os que vivi em Jerusalém. De alegria e louvor em Belém, naquela gruta humilde onde Jesus quis nascer, onde Deus infinitamente “Santo, forte e imortal” se fez um de nós para nos salvar! De alegria e louvor na subida ao Templo, “à casa do Pai”, vendo Maria com Jesus ao colo e José com as rolas na mão, vendo a humildade daquela família e a grandeza incomensurável daquele lugar! Como não haviam de perder um dia o Menino no Templo?!
Oh lugar Santo! Oh lugar Bendito! Oh mistério insondável de Deus que fez de nós Seu Templo, pela graça do baptismo! A infinita grandeza de Deus habita agora a nossa pequenez. Agora, somos nós o Seu Templo! Deus quis ficar connosco para sempre, verdadeiramente como está no céu, mas transfigurado no pão que comungamos. Como diz o Papa “ a comunhão é realmente um encontro entre duas pessoas, é um deixar-se penetrar pela vida d’Aquele que é o Senhor, d’Aquele que é o meu Criador e Redentor”.
Hora de alegria e louvor, aquela do Cenáculo, hora de sofrimento e dor no Jardim das Oliveiras! Dor, dor intensa, pelas vezes que adormeci, que adormeço, que O esqueço, que não sou capaz de lhe fazer companhia.

Horas de sofrimento e dor, dor imensa na Via-Sacra e no Calvário. Aquela hora no Calvário, junto à cruz, ajoelhada ao lado da Isabel como as mulheres de Jerusalém, não há palavras que a descrevam. A comoção era imensa, e banhada em lágrimas gritava dentro de mim, “Meu Deus, meu Deus, não sou digna de estar aqui …mas, eu faço parte do que aqui se passou há dois mil anos, foi por mim que Vos entregastes, que oferecestes a Vossa vida… meu Deus, meu Deus, eu não sou digna de tanto amor! Oh sangue e água, que brotastes do Coração de Jesus como fonte de Misericórdia, inundai-me, eu tenho confiança em Vós!
Ali permaneci banhada em lágrimas, tentando viver no meu coração tudo o que ali aconteceu. Hora de sofrimento e dor, mas hora bendita! Comoveu-me imenso encontrar aquela imagem belíssima de Nossa Senhora das Dores, ao lado do Calvário, oferecida por Portugal e com as armas reais no esplendor. Comoveu-me por ter sentido nesse encontro um carinho especial de Nossa Senhora, a quem há tantos anos rezamos todos os dias em família, sete Ave-Marias pelas Suas dores.
E depois correr com a Isabel para aquele Túmulo, com Pedro e João, com todos aqueles que há dois mil anos acorrem ali, atropelando-se, cantando mais alto uns do que os outros, lutando e abafando-se, construindo e voltando a construir, para chegarem e verem o que eu vi, “não está aqui, ressuscitou, não é vã a nossa fé”!
Aquele Jesus que vimos ser anunciado em Nazaré, e com quem convivemos estes dias, ressuscitou para que ressuscitemos com Ele. E a força desta verdade é tão grande, tão incomensurável que abala tudo e tudo transforma.
Foi para esta certeza que vivemos estes dias, foi para Ele, para Jesus, que o Senhor Padre Dário e o Rui nos abriram o coração. Como diz o Rui, esta vivência da Terra Santa” muda tudo, mudou tudo em mim”.

O meu coração regressou como o dos discípulos de Emaús, a “arder com as coisas que Ele nos dizia”, mas também lá ficou naquelas colinas, naquele mar, naquele deserto, debaixo daquele céu, e para sempre naquele túmulo, sobre aquela pedra gelada de estar vazia, na certeza de que a graça da Sua cruz nos ressuscitará para a vida eterna.
Não mais se pode ser o mesmo depois de se percorrer os Lugares Santos. Muda tudo, mudou tudo em mim.
Agora posso cantar, com o coração comovido como o salmista “Se de ti me não lembrar, Jerusalém, fique presa a minha língua”.

Maria Emília de Azeredo Barata de Tovar
Casa da Igreja, 15 de Março de 2011

Sans Moi, vous ne pouvez rien faire

Obrigado Rui por me deixar peregrinar consigo.
Obrigado Padre Dário por me ensinar a caminhar com Deus e para Deus.
Obrigado a todos os da organização.
Obrigado amigos peregrinos por caminharem comigo a este lugar tão especial que é a Terra Santa.

Ir a segunda vez à Terra Santa é um privilégio uma Graça, foi diferente, foi mais vivido, ía mais calma, mais atenta, o tempo era meu e de Deus, queria viver aqueles dias como se fossem os primeiros da minha vida, deixar a rotina, a monotonia e pôr a minha alma e o meu coração em tudo que via, ouvia e sentia e consegui com a Graça de Deus.

Que Graça é estarmos no sitio que Jesus morreu e ressuscitou. Que felizes somos em acreditar Nele, haja morte, doença, catástrofe...a nossa fé está no ressuscitado.

Não houve um lugar especial, todos foram especiais mas a minha vida foca-se na RESSUREIÇÃO porque ACREDITO e é assim que quero viver. A Ressurreição é a nossa vida.

Em Emaús foi comprado e dado por uma mana uma pagela (que foi tirada à sorte entre várias da família) e a frase que me calhou é a seguinte:

Sans moi, vous ne pouvez rien faire. Esta frase (para mim) faz todo o sentido.

Um bem-haja a todos estou e sou feliz de ter peregrinado com vocês, a distância causa saudade de todos vocês mas nunca esquecimento.

Um beijo


Joana Bragança

quarta-feira, 16 de março de 2011

Aquela semana foi para a vida!


Olá peregrinos!!! Que saudades, partia já amanhã!

Aquela semana foi para a vida! Obrigado Rui, padre Dário, Alex e a todos, e principalmente obrigado a Deus!

Ir à Terra Santa não estava de todo nos meus planos... mas a minha querida irmã Ana inscreveu-nos, a mim e às minhas irmãs, de surpresa, e é claro que adorei! Sabia que iria ser uma viagem fantástica mas foi muito mais que isso! Uma serenidade, beleza, oração, alegria, etc etc. O que poderia querer mais?

Deus Nosso Senhor sempre connosco pelas ruas onde andou, por onde ensinou, por onde pregou, por onde trabalhou, por onde fez maravilhas, por onde sofreu por, por, por.... até ao deserto ele nos levou onde esteve 40 dias a ser tentado.

Tantas graças recebi nesta semana que não tèm conta, e tantas recebo todos os dias! E HIC ao chegar ao deserto chorei e agradeci ao Senhor por ele me amar tanto!!!!! O deserto era um dos lugares que mais me fascinava e gostaria de conhecer. Sempre foi um desejo que tive mas ainda não tinha tido oportunidade... eis que então fui lá parar sem saber como!! Naquele lugar senti que era muito muito amada por isso chorei de alegria. Não fui eu que decidi ir à terra Dele mas sim foi ele que me escolheu para ir lá! Como Ele é misericordioso!!!!!

Foram muitos os lugares que me marcaram... mas este foi o que teve mais significado para mim e, por isso, quis partilha-lo com todos.

Um grande beijinho,


Becas Bragança

domingo, 13 de março de 2011

Mas lá fui!

Caro Rui
Desde que a minha mãe nos descreveu as suas viagens à Terra Santa, que eu e a Maria decidimos que essa seria a nossa viagem de sonho. Pedimos-lhe que falasse com o Rui e nos inscrevesse, e ficámos pacatamente à espera.
Quando soubemos que tínhamos sido aceites, foi uma enorme alegria seguida, da minha parte, de uns meses de apreensão, quando comecei a ouvir falar em reuniões de preparação obrigatórias (reunião de preparação para uma viagem?!!) e, durante as mesmas, de disciplina, oração, espírito de grupo, peregrinação,... Apesar das descrições da minha mãe, na minha cabeça ainda não tinha consciencializado que esta era uma peregrinação, e não uma simples viagem de turismo de cariz religioso. Fiquei com algumas dúvidas: ia ou não ia? Com a Maria entusiasmadíssima com tudo (ela que é tão pouco disciplinada, a achar tudo óptimo), fui-me deixando levar. Depois, e apesar do espírito de peregrino já estar solidificado com alegria, a ideia das noites quase directas, do cansaço, dos nossos gémeos de 3 anos ficarem para trás tanto tempo e de tão longe (pela primeira vez na vida), etc., não me entusiasmavam.

Mas lá fui ! Os nossos gémeos Tirso e Xavier pareciam mais entusiasmados de nos ver pelas costas (ficando com a casa da avó - onde a liberdade parece infinita...- por sua conta), do que nós com a partida. Terá sido essa a primeira intervenção de Deus nesta viagem? É que, quando receávamos uma despedida sofrida, deu-se um tranquilo adeus, o que nos acalmou para partirmos em paz. E a mesma coisa aconteceu durante a viagem. O bem que eles estavam libertou-nos para mergulhar de cabeça na Terra Santa. Também as outras preocupações que levava se foram desvanecendo, para o que muito contribuiu o espírito unido e acolhedor do grupo, a boa disposição do Alex, e o "inesperado" relaxamento do Rui, que percebia que este grupo se ia entregando à peregrinação como ele desejaria, sem grandes resistências e com uma naturalidade espantosa. Se a isto juntarmos a profundidade e exacta adequação das reflexões do Padre Dário (e do Rui) em todo o lado, a viagem começava a tornar-se em algo único e muito especial.

Embora a semana tenha funcionado como um todo quase indivisível, há alguns momentos que gostaria de destacar - Logo no primeiro dia, a missa na Basílica da Anunciação, em Nazaré, que funcionou para me demonstrar que era real, eu estava mesmo naquele lugar, tinha lá chegado! E emocionei-me. Uma surpresa foi o Lugar do Primado: na minha cabeça eu ia visitar os lugares onde o Jesus histórico tinha andado; quando de repente me encontrei onde Jesus apareceu Resusscitado, num dos momentos de maior e mais realista diálogo que os Evangelhos descrevem, fiquei profundamente tocado. O Deserto foi também muito bonito, embora neste lugar o aprofundamento espiritual, o momento de oração profunda, não tenha resultado... Mas resultou o ter percebido porque Jesus escolhera aquele lugar, ter partilhado aquela beleza toda com o meu Jesus; aliás, toda a paisagem de Israel foi uma maravilhosa supresa, pois nesse aspecto ia a contar com um país sem grande interesse paisagístico. Foi pois com supresa e um delicioso prazer que descobri as belezas da Terra por onde Jesus andou, que vi os pássaros e as árvores que Ele viu.
O meu ponto mais alto de profunda oração, e talvez o ponto mais alto da peregrinação, foi durante a adoração no Monte das Oliveiras - primeiro a preparação no Jardim das Oliveiras, onde senti que era um privilegiado, e onde fui entrando aos poucos numa grata oração; depois a oração profunda e tão calma na Igreja da Agonia, culminando com uns segundos de intensa emoção, diria que até magnetismo, quando pude abraçar e beijar a rocha onde Jesus tanto terá sofrido. No dia seguinte, depois da Via Sacra, esperava-nos uma razoável fila para entrar no Santo Sepúlcro. No meio desse mar de gente, não esperava grande coisa da visita a esse lugar tão especial; mas eis que, na antecâmara me consigo recolher uns segundos e que depois, com as mãos em cima do Santo Sepúlcro, beijando-o, voltei inesperadamente a sentir aquela força espantosa do dia interior, aquele magnetismo, que me fizeram sair de lá tão preenchido...

Não menos importante do que todos estes momentos, foi a insistência do Padre Dário, para que saíssemos de Israel diferentes, e a sua acentuação constante da palavra "Paz".

A preparação que o Rui fez foi indizível, indescritivelmente bem feita, em todos os pormenores. Simplesmente não há palavras. Tanto assim o sinto, que agora só me apetece berrar para que as pessoas vão à Terra Santa. Mas depois quase que me calo, quando percebo que, tão importante como ir, é ir bem preparado... (não poderia o Rui abrir uma agência só para preparar viagens assim à Terra Santa? Assim, resolvia-se o problema !...)

Por tudo isto, esta viagem foi para mim algo de muito marcante, que não mais dexarei de recordar, e que acredito que mudou a minha relação com Cristo e a Igreja Católica.

Os meus sentidos agradecimentos ao Rui e a toda a sua equipa, ao Padre Dário, e a todos os colegas peregrinos.

Muitas saudades,

Vicente Olazabal

quarta-feira, 9 de março de 2011

Que assim seja!

Ida à Terra Santa
19 a 27/02/2011

Com o nosso Director Espiritual Sr Padre Dário Pedroso S. J. e o nosso organizador e toda a sua equipa Rui Corrêa de Oliveira, seu filho Pedro, nora, Ana Libano Monteiro a Helena da Agência de Viagens “Geostar”, o guia excepcional judeu brasileiro Alex e o chauffeur Samy.
Graças a Deus a todos eles, porque nos proporcionaram esta vivência destes dias na Terra Santa, onde sentimos o Céu na Terra!
Há anos que eu sonhava com esta viagem. Tive uma oportunidade que não se realizou há uns anos, porque rebentou a guerra no seu auge. Mas como o tempo de Deus não é o nosso, e penso que há males que vêm por bem, senti em todos os aspectos, que melhor era impossível: a organização excelente, sem falhas em pormenor, com surpresas para nós, inesquecíveis para o resto da vida! É comovente até ao fundo da alma e do coração viver esta experiência, esta organização teve parte nisso!
Os momentos de espiritualidade vividas na Santa Missa, o que o Sr. Padre Dário nos fez sentir e meditar nas coisas importantes que Deus nos pede, a nossa transformação o nosso testemunho de Cristãos alegres, com atitudes de vivência na caridade, em tudo o que isso implica.
As velas com o nosso nome postas em cima do altar a pedir por todos nós e as nossas famílias.
É impossível, descrever tudo o que vivi, mas vou tentar escrever o que mais me tocou.
A Igreja da Anunciação, onde tivemos uma Missa. Aqui eu senti o começo que eu deverei sentir toda a minha vida de ser uma privilegiada no meio deste mundo!
Viveram ali neste sitio Jesus, sua Mãe e seu Pai adoptivo até à vida pública de Jesus que começou aos 30 anos.
O Monte TABOR onde Jesus se transfigurou diante de João, Pedro e Tiago. Encontros, terços, alguns rezados em andamento, outros em sítios especiais que irão marcar para sempre as nossas vidas.
A caminho do Mar da Galileia de Cafarnaum. Miradouro da Paz – sitio espectacular onde se avista todo o mar da Galileia – Cesareia de Felipe, onde nas margens do rio Jordão renovámos as promessas do Baptismo. Cada um com uma medalha que o Rui nos ofereceu – mergulhámos na água do Jordão. O passeio de barco no mar da Galileia. Imaginei naquele barco Jesus representado no Sr. Padre Dário com os discípulos que éramos nós. O silêncio, só se ouviu o barulho das ondas e o chilrear dos passarinhos.
As ruínas da casa de São Pedro. O almoço do peixe chamado de S. Pedro – A Sinagoga onde Jesus ensinou. O rio Jordão muito poluído, mas onde se pensa quase certo, o sitio onde Jesus foi Baptizado por São João Baptista, o Mar Morto, com uma densidade de sal de tal modo que não se vai ao fundo. Depois vem um dos sítios que mais me impressionou e me tocou. Uma hora todos separados em cima do deserto, onde Jesus foi tentado 3 vezes pelo demónio e
onde se recolheu em jejum e oração 40 dias e 40 noites. Aqui meditei nas minhas tentações, com o demónio sempre por perto a tentar a nossa vida. Quantas vezes me deixei ir atrás, quantas vezes rezei a Deus para resistir? O mundo de hoje, para mim, a oração é de maior importância, porque nada tem a ver com nada de tudo o que aprendi, dos valores que peço para seguir – da minha maneira de ver a vida, etc, etc. Momento único!
A missa no sitio dos Bem Aventuranças, que o Sr. Padre Dário nos fez ver que tudo o que Jesus diz é tudo o que Ele é, e nos ensinou a ser.
O sitio da Multiplicação dos Pães, onde Jesus saciou a fome à multidão que o escutava. De volta a Jerusalém – visita nocturna à parte antiga da cidade – olhar no mesmo sítio onde Jesus chorou ao olhar a cidade Santa. Muro das lamentações onde eu tinha uma folha com várias intenções entregues à misericórdia de Deus, e consegui arranjar um buraquinho para o meter.
Só para dizer que tinha um irmão muito aflito que a sua filha, minha sobrinha ia ter um neto, cujo nome vai ser Salvador, que era suposto ser operado à nascença com deficiência grave no coração. Nasceu e o médico verificou que estava sem nada – são e salvo para poder ir para casa. Eu pensei, que bom é ter fé e ter sossegado o meu irmão antes de partir.
A maquete de Jerusalém antiga, a ida de noite ao monte das Oliveiras, só o nosso grupo, passeámos ali, onde Jesus ficou só, na sua agonia sobre aquela pedra na Igreja da Agonia onde estivemos em adoração.
Igreja de São João Baptista – Benedictus – Igreja da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Sta. Isabel. Aí podemos ver em vários painéis o Magnificat em português e todos juntos rezámos aquela oração.
Tivemos uma Missa nas irmãs, num convento bizantino, onde nos ofereceram uma oração para acabarem os muros entre os povos e as pessoas – Igreja da Dormição onde está a imagem da Nossa Senhora. Hoje construída a grande Basílica de Santo Sião.
Belém – beijar o chão com uma cruz assinalando o sitio da manjedoura onde Jesus nasceu. Ao lado dumas grutas onde ficou a Sagrada Família até à fuga para o Egipto.
O lugar do Cenáculo,- A sala do andar de cima onde Jesus reunido com os seus 12 Apóstolos e pensa-se que Nossa Senhora estaria presente, por isso fizeram uma 4estátua com a sua imagem num canto a olhar para todos.
Momento alto das nossas vidas de cristãos – realização da transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo que irá ficar connosco na Sagrada Eucaristia no Sacrário de todas as Igrejas Católicas do Mundo. Eu ficarei convosco até ao final dos tempos. Na hóstia consagrada e o seu Espírito a partir do nosso Baptismo. Jesus dá o exemplo de como ele tantas vezes repetiu: “Eu vim para servir e não para ser servido!” - que acto, que exemplo espantoso de humildade e simplicidade. Lavou de joelhos os pés aos seus Apóstolos. Via sacra - via dolorosa. Alguns de nós escolhidos para fazer este percurso e em cada estação dois foram escolhidos. Na 8ª estação eu com o Joaquim meu marido, a Zézinha e a Terezinha (como eu lhes chamo) das pessoas mais queridas e mais simples e cheias de espiritualidade foram escolhidas também nesta estação. Levar a cruz, carregada por Cristo há 2 mil anos. O sofrimento, as chagas, as quedas a lembrar as nossas quedas durante a vida. Que momento alto dentro da minha alma, do meu espírito e do meu coração.
Santo Sepulcro Calvário - sitio onde se tem a certeza que ali naquele buraco, onde todos metemos a mão foi enterrada a Cruz onde Jesus foi pregado e que esteve em agonia durante
3h. Que sentimento profundo de admiração – só Deus teria aguentado e passado por toda a sua paixão para nos salvar – tocámos em seguida na pedra onde foi
ungindo antes de entrar no Santo Sepulcro. Por momentos fica-se baralhado, mesmo estupefacto com tantas religiões, tanta confusão, vários a cantar e a rezar ao mesmo tempo! Parece que se disputam a ver quem grita mais alto e se evidenciam mais. Mas depois
fechei os olhos e concentrei-me no essencial, o sagrado daquele sitio e entrei na paz que eu tanto ansiava.
Piscinas Probáticas onde Jesus curou vários doentes. Igreja de Santa Ana. Tirámos a tarde livre, mas muitos de nós com o Sr. Padre Dário decidimos sem falar uns com os outros, que melhor tarde, senão voltar ao Calvário no Santo Sepulcro e estar em adoração. Bendita a hora da
nossa decisão! Igreja onde Santa Maria Madalena teve o seu encontro com Jesus ressuscitado. Também uma missa ao lado numa Igreja.
Dia seguinte S. Pedro – in – Gallicantum onde ele negou 3 vezes Jesus e a seguir o galo cantou. Chorou amargamente de arrependimento lembrando-se do que Jesus lhe dissera.
Gruta de traição de Judas nde Judas veio na companhia dos soldados buscar Jesus para ser entregue. Grutas onde há certeza que Jesus foi flagelado.
Sitio de Ascenção de Jesus aos Céus. Pai nosso – Oração ensinada por Ele em que cada palavra está implícita o que devemos seguir na vida. Por fim saída para Emaús, onde Jesus passeia sem ser reconhecido com alguns discípulos e só o reconhecem quando lhe pedem para ficar com eles para tomar parte da refeição, devido ao adiantado da hora, e ao partir do pão, dizem: “É ele é Jesus, ressuscitou” – e foram a correr para Jerusalém dar o seu testemunho.
Haveria muito mais para dizer, mas recomendo a todos os que poderem, vão viver e ver estas maravilhas.
Todos os católicos que puderem não deixem de ir. Assim como os Muçulmanos vão a Meca, os católicos que tenham oportunidade deveriam ir visitar esta terra SANTA!
Que assim seja!


Tereza Marim

COMIGO ASSIM SE PASSOU

Queridos amigos e peregrinos da Terra Santa:

Tal como o Rui sugeriu, passado algum tempo sobre o nosso regresso já estou em condições de passar á escrita o meu estado de alma.

Foi durante muito tempo o meu grande sonho ir á Terra Santa, mas só o queria fazer em peregrinação e Deus concedeu-me agora essa graça. A experiência não poderia ter sido melhor. Confesso-vos que estava um pouco apreensiva pois ia sozinha “ com mais 49 pessoas” das quais só conhecia três, mas senti-me muito bem e penso que também não fui aborrecida para ninguém.
Daqui levava todos os problemas, preocupações e incertezas que ocupam o meu coração no dia-a-dia, todos os pedidos que várias pessoas me fizeram para rezar por elas, as intenções daqueles que amo e que vivem neste momento situações difíceis, o peso era enorme e não me queria esquecer de ninguém. Depois parei e pensei que o Pai sabe tudo o que nos vai na alma e esse perigo não corria e assim começou tudo!
Tenho a dizer-vos que no dia que chegámos, já noite, a Jerusalém, senti algo que não se descreve por palavras e do qual já me tinham avisado. Depois de orarmos e do Alex ter feito a recepção habitual aos Peregrinos da Terra Santa, quando ficámos em silêncio a olhar Jerusalém, salpicada de luzes e com a cúpula dourada da mesquita á nossa frente, a cidade de Jesus e por Ele tão amada, libertei-me de tudo o que me preocupava e oprimia o coração, entreguei e chorei profundamente com a sensação de uma criança que procura e encontra toda a ternura do colo do Pai! Ele estava ali para nos acolher e a todas as nossas preces, para que vivêssemos com a alma leve e limpa e podermos com o coração aberto receber, assimilar e participar em tudo o que se iria passar nos dias seguintes. COMIGO ASSIM SE PASSOU.
Todos os locais visitados têm um enorme sentido para nós e como alguém disse num dos encontros o Evangelho passou a ser a cores e com perfeito conhecimento dos locais relatados, mas quero aqui salientar o que mais me marcou.
A Missa celebrada no Monte das Bem-Aventuranças tendo como pano de fundo o Lago de Tiberíades, onde o silêncio só era perturbado pelas aves, todos nós sentados bem perto uns dos outros ouvindo o Padre Dário falar fez--me sentir um dos discípulos de Jesus e cresceu em mim a responsabilidade, de tal como eles, difundir a Sua palavra. Abandonei aquele local cheia de Paz.
O DESERTO!!! Só posso falar por mim. Não há palavras só sensações, sentimentos, emoções, estamos sozinhos entre o céu e a terra. Fiz uma retrospectiva da minha vida, de tudo o que Deus me deu e daquilo que não Lhe dei, não propositadamente mas que por vezes não estou atenta aos sinais. Ali estava eu, onde nunca tinha pensado que fosse possível, a falar com Ele agradecendo--lhe tudo o que me tinha proporcionado na minha vida, a Sua presença sempre que dela necessito e já têm sido muitas vezes, todo o amor incondicional que nos tem. Por momentos achei que tinha asas e podia voar livremente até ao céu e voei, na minha mente.
Belém, a Gruta da Natividade fez-me imaginar tudo o que ali se passou, o Milagre da Vida e do Amor pelos homens.
Outro dos momentos que me tocaram especialmente foi a visita ao Jardim das Oliveiras e a Adoração na Igreja da Agonia, não dei pelo tempo passar, tão boa era a sensação e a Paz que tocava o meu coração.
O Calvário e o Santo Sepulcro são outros locais indescritíveis e que nos transportam a tudo aquilo que ao longo da vida fomos lendo e aprendendo, primeiro na catequese e depois na nossa prática da fé. É muito interessante e ao mesmo tempo estranho toda aquela mistura de objectos, cultos e credos que lá convivem.
Ao percorrer a Via-Sacra senti, no verdadeiro sentido da palavra, que Jesus estava ali comigo dando-me o conforto e a paz que eu tanto lhe pedi. Tal como aconteceu ali no passado, eu também não O reconheci logo, mas no minuto seguinte percebi o que se tinha passado.
O Padre Dário foi uma lufada de ar fresco maravilhoso naquela peregrinação. Eu não o conhecia mas fiquei profundamente agradada com a sua maneira de ser e sobretudo com a sua palavra, firme, directa e ao mesmo tempo tão iluminada. É muito agradável ver um Homem de Deus tão perto de nós e com tanto a ver connosco. Bem-haja pela paz e amor que me transmitiu.
Para o Rui o meu muito obrigado por me ter permitido integrar o grupo desta maravilhosa viagem e parabéns pela fantástica organização e um grande beijinho a todos os que colaboraram para que fosse tão perfeito.
Finalmente, mas em primeiro lugar, agradeço á Santíssima Trindade a dádiva enorme que me foi dada e pela qual tanto ambicionava. DEUS SEJA LOUVADO!!!!
Um beijo para todos, meus amigos e obrigado por serem como são.

Maria Vanda Belchior

domingo, 6 de março de 2011

Nós somos o Céu a caminho do Céu

Experiências de Peregrino
...O Homem é o permanente mendigo de todas as necessidades, que fazem do tempo a paciência de Deus e do espaço esse grande armazém da misericórdia divina... pedimos,vivemos a suplicar a Deus. Pedir é a contingência maior de quem precisa!!!!. E aí vou eu a Caminho da Terra Santa a pedir e a louvar esta grande graça divina, a de poder ir a este lugar e agradecer tanta coisa boa na minha vida, levo no meu coração tantas pessoas quantas é possível carregar, com a certeza porém de que se me esquecer de alguém Deus não se vai esquecer, porque sabe bem quem eu tenho no meu coração... na volta partilharei esta experiência com a certeza absoluta que esta será a maior de muitas boas que tenho tido ao longo da vida. Foi nesta atitude que me puz a caminho: "Que alegria quando me disseram vamos para a Casa do Senhor.Detiveram-se os nossos passos Jerusalém."

O meu coração dispos-se a deslocar-se em espírito de oração, de um lugar a outro de uma cidade a outra. Naqueles lugares particularmente marcados pela presença de Jesus, fui ajudada a viver o meu dia a dia na companhia Dele e tendo-O como meu Companheiro de viagem, (na ajuda que recebi,nas lágrimas que chorei e como fui consolada, no serviço que prestei, na alegria vivida, nos momentos mais difíceis,nas noites mal dormidas,nas amizades que solidifiquei, na felicidade de fazer parte deste grupo de "Bem Aventurados", nas Eucaristias com o nosso Querido Mentor Espiritual.)

Jesus chorou e comoveu-se... Também eu senti a comoção neste lugar tão especial, onde me dei conta das minhas fraquezas, do quanto Deus me ama e das vezes que não Lhe correspondo...
Esta minha peregrinação tornou-se uma experiência extraordinariamente significativa e cheia de Esperança para aquilo que quero para a minha vida.

Senti várias vezes Jesus no meu caminho a dizer-me: Se caíres Eu levanto-te... Segue-Me...Estarei contigo até ao fim dos tempos...
Onde está Jesus o nosso coração arde, como aconteceu aos dois companheiros de jornada a caminho de Emaús. " Não ardia cá dentro do nosso coração,quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" Como os discipulos de Emaús também eu senti um ardor imenso dentro de mim e quero pedir-Te meu Deus, fica comigo!...
Quem anda na fé acredita sem ver e todos os que acreditam em Jesus têm vontade de o anunciar, por isso quiz aqui deixar o testemunho do que senti, nesta minha "Viagem" à Terra Santa, convicta de que nada será como dantes depois de ter vivido o que vivi e como dizia o Padre Dário: "Nós somos o Céu a caminho do Céu".

Zézinha
(Maria José Galvão Lucas)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

De Maria nunquam satis


De Maria nunquam satis


Quando eu era jovem teólogo, antes e até mesmo durante as sessões do Concílio, como aconteceu e como acontecerá, a muitos, eu alimentava uma certa reserva sobre algumas fórmulas antigas como, por exemplo, a famosa De Maria nunquam satis - "Sobre Maria jamais se dirá o bastante". Esta me parecia exagerada.


Encontrava dificuldade, igualmente, em compreender o verdadeiro sentido de uma outra expressão bastante famosa e difundida (repetida na Igreja desde os primeiros séculos, quando, após um debate memorável, o Concílio de Éfeso, do ano 431, proclamara Nossa Senhora como Maria Theotokos, que quer dizer, Maria, Mãe de Deus), expressão esta que enfatiza que Maria é "vitoriosa contra todas as heresias".


Somente agora - neste período de confusão em que multiplicados desvios heréticos parecem vir bater à porta da fé autêntica -, passei a entender que não se tratava de um exagero cantado pelos devotos de Maria, mas de verdades mais do que válidas.


Cardeal Ratzinger, atualmente, Papa Bento XVI
Entretiens sur la Foi
Vittorio Messori - Fayard 1985

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’


VI Domingo do Tempo Comum
EVANGELHO – Mt 5,17-37

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letraou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos,por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio,e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altare ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um dos teus membros do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos:Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegal, fá-la cometer adultério. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».

AMBIENTE

Terminado o preâmbulo do “sermão da montanha” (que vimos nos dois anteriores domingos), entramos no corpo do discurso. Recordamos aquilo que dissemos nos domingos anteriores: o discurso de Jesus “no cimo de um monte” transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a Lei; agora, é Jesus que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus essa nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”. Neste discurso (o primeiro dos cinco grandes discursos que Mateus apresenta), o evangelista agrupa um conjunto de “ditos” de Jesus e oferece à comunidade cristã um novo código ético, a nova Lei, que deve guiar os discípulos de Jesus na sua marcha pela história.Para entendermos o “pano de fundo” do texto que nos é hoje proposto, convém que nos situemos no ambiente das comunidades cristãs primitivas e, de forma especial, no ambiente da comunidade mateana: trata-se de uma comunidade com fortes raízes judaicas, na qual preponderam os cristãos que vêm do judaísmo… As questões que a comunidade põe, na década de oitenta (quando este Evangelho aparece), são: continuamos obrigados a cumprir a Lei de Moisés? Jesus não aboliu a Lei antiga? O que é que há de verdadeiramente novo na mensagem de Jesus?

MENSAGEM

Mateus tenta conciliar as tendências e as respostas dos vários grupos que, no contexto da sua comunidade cristã, eram dadas a estas questões.Na primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto (vers. 17-19), Mateus sustenta que Cristo não veio abolir essa Lei que Deus ofereceu ao seu Povo no Sinai. A Lei de Deus conserva toda a validade e é eterna; no entanto, é preciso encará-la, não como um conjunto de prescrições legais e externas, que obrigam o homem a proceder desta ou daquela forma rígida, no contexto desta ou daquela situação particular, mas como a expressão concreta de uma adesão total a Deus (adesão que implica a totalidade do homem, e que está para além desta ou daquela situação concreta). Dito de outra forma: os fariseus (que eram a corrente dominante no judaísmo pós-destruição de Jerusalém) tinham caído na casuística da Lei e achavam que a salvação passava pelo cumprimento de certas normas concretas; mas Mateus achava que a proposta libertadora de Jesus ia mais além e passava por assumir uma atitude interior de compromisso total com Deus e com as suas propostas.Na segunda parte do texto que nos é proposto (vers. 20-37), Mateus refere quatro exemplos concretos desta nova forma de entender a Lei (na realidade, são seis os exemplos que aparecem no conjunto do texto mateano; mas o Evangelho de hoje só apresenta quatro; os outros dois ficam para o próximo domingo).O primeiro (vers. 21-26) refere-se às relações fraternas. A Lei de Moisés exige, simplesmente, o não matar (cf. Ex 20,13; Dt 5,17); mas, na perspectiva de Jesus (que não se resume ao cumprimento estrito da letra da Lei, mas exige uma nova atitude interior), o não matar implica o evitar causar qualquer tipo de dano ao irmão… Há muitas formas de destruir o irmão, de o eliminar, de lhe roubar a vida: as palavras que ofendem, as calúnias que destroem, os gestos de desprezo que excluem, os confrontos que põem fim à relação. Os discípulos do “Reino” não podem limitar-se a cumprir a letra da Lei; têm que assumir uma nova atitude, mais abrangente, que os leve a um respeito absoluto pela vida e pela dignidade do irmão. A propósito, Mateus aproveita para apresentar à sua comunidade uma catequese sobre a urgência da reconciliação (o cortar relações com o irmão, afastá-lo da relação, marginalizá-lo, não é uma forma de matar?). Na perspectiva de Mateus, a reconciliação com o irmão deve sobrepor-se ao próprio culto, pois é uma mentira a relação com Deus de alguém que não ama os irmãos.O segundo (vers. 27-30) refere-se ao adultério. A Lei de Moisés exige o não cometer adultério (cf. Ex 20,14; Dt 5,18); mas, na perspectiva de Jesus, é preciso ir mais além do que a letra da Lei e atacar a raiz do problema – ou seja, o próprio coração do homem… É no coração do homem que nascem os desejos de apropriação indevida daquilo que não lhe pertence; portanto, é a esse nível que é preciso realizar uma “conversão”. A referência a arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos) ou a cortar a mão que é ocasião de pecado (a mão é, nesta cultura, o órgão da acção, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) são expressões fortes (bem ao gosto da cultura semita mas que, no entanto, não temos de traduzir à letra) para dizer que é preciso actuar lá onde as acções más do homem têm origem e eliminar, na fonte, as raízes do mal.O terceiro (vers. 31-32) refere-se ao divórcio. A Lei de Moisés permite ao homem repudiar a sua mulher (cf. Dt 24,1); mas, na perspectiva de Jesus, a Lei tem de ser corrigida: o divórcio não estava no plano original de Deus, quando criou o homem e a mulher e os chamou a amarem-se e a partilharem a vida.O quarto (vers. 33-37) refere-se à questão do julgamento. A Lei de Moisés pede, apenas, a fidelidade aos compromissos selados com um juramento (cf. Lv 19,12; Nm 20,3; Dt 23,22-24); mas, na perspectiva de Jesus, a necessidade de jurar implica a existência de um clima de desconfiança que é incompatível com o “Reino”. Para os que estão inseridos na dinâmica do “Reino”, deve haver um tal clima de sinceridade e confiança que os simples “sim” e “não” bastam. Qualquer fórmula de juramento é supérflua e sinal de corrupção da dinâmica do “Reino”.A questão essencial é, portanto, esta: para quem quer viver na dinâmica do “Reino”, não chega cumprir estrita e casuisticamente as regras da Lei; mas é preciso uma atitude interior inteiramente nova, um compromisso verdadeiro com Deus que envolva o homem todo e lhe transforme o coração.

In Dehonianos

domingo, 30 de janeiro de 2011

Bento XVI apela à paz na Terra Santa


Papa diz que a Igreja não tem medo das perseguições

Cidade do Vaticano, 30 Jan (Ecclesia) – Bento XVI apelou hoje à convergência de forças palestinas e israelitas para “projectos” de paz na Terra Santa, num dia em que lembrou ainda a luta contra a lepra.
Na tradicional oração do Angelus, no Vaticano, o Papa disse referiu-se à jornada internacional de oração pela Paz na Terra Santa.
“Associo-me ao Patriarca Latino de Jerusalém e ao Custodio da Terra Santa no convite dirigido a todos, a pedir ao Senhor para que faça convergir as mentes e os corações para projectos concretos de paz”, indicou.
Simbolicamente, no final do encontro, duas crianças lançaram pombas brancas desde a janela do apartamento do Papa, sobre a Praça de São Pedro, numa iniciativa promovida pela Acção Católica de Roma.
Na parte inicial deste encontro com cerca de 30 mil peregrinos, Bento XVI comentou uma passagem dos Evangelhos em que Jesus proclama bem-aventurados “os pobres que o são no seu intímo, os aflitos, os misericordiosos, os que têm fome e sede de justiça, os puros de coração, os que sofrem perseguição”.
“Não se trata de uma nova ideologia, mas de um ensinamento que vem do alto e toca a condição humana, precisamente aquela que o Senhor incarnando-se quis assumir, para a salvar”,
precisou.
Para o Papa, “as bem-aventuranças são um novo programa de vida para nos libertarmos dos falsos valores do mundo e nos abrirmos aos bens verdadeiros”.
Neste contexto, Bento XVI afirmou que a Igreja “não teme a pobreza, o desprezo, a perseguição numa sociedade muitas vezes atraída pelo bem-estar material e pelo poder mundano”.
O Angelus, momento de recolhimento que ocorre habitualmente ao meio-dia, consiste na recitação de três Ave-Marias, introduzidas por versículos bíblicos respeitantes ao nascimento e vida terrena de Jesus Cristo e numa oração final.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa


IV Domingo do Tempo Comum

Evangelho – Mt 5,1-12

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo:«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

AMBIENTE

Depois de dizer quem é Jesus (Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.Uma característica importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo evangelista aos “ditos” de Jesus. Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem cinco longos discursos (cf. Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta “ditos” e ensinamentos provavelmente proferidos por Jesus em várias ocasiões e contextos. É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.O primeiro discurso de Jesus – do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte – é conhecido como o “sermão da montanha” (cf. Mt 5-7). Agrupa um conjunto de palavras de Jesus, que Mateus coleccionou com a evidente intenção de proporcionar à sua comunidade uma série de ensinamentos básicos para a vida cristã. O evangelista procurava, assim, oferecer à comunidade cristã um novo código ético, uma nova Lei, que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de Deus.Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.As “bem-aventuranças” que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (cf. Lc 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto mateano; outras notas características da versão de Mateus são a espiritualização (os “pobres” de Lucas são, para Mateus, os “pobres em espírito”) e a aplicação dos “ditos” originais de Jesus à vida da comunidade e ao comportamento dos cristãos. É muito provável que o texto de Lucas seja mais fiel à tradição original e que o texto de Mateus tenha sido mais trabalhado.

MENSAGEM

As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura (cf. Is 30,18; 32,20; Dn 12,12), quer nas acções de graças pela alegria presente (cf. Sl 32,1-2; 33,12; 84,5.6.13), quer nas exortações a uma vida sábia, reflectida e prudente (cf. Prov 3,13; 8,32.34; Sir 14,1-2.20; 25,8-9; Sl 1,1; 2,12; 34,9). Contudo, elas definem sempre uma alegria oferecida por Deus.As “bem-aventuranças” evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o “Reino”. Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).As quatro primeiras “bem-aventuranças” referidas por Mateus (vers. 3-6) estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda, terceira e quarta “bem-aventuranças” são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: “bem-aventurados os pobres em espírito”). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros. Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria…A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.O segundo grupo de “bem-aventuranças” (vers. 7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles falharam.Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação entre os homens.Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.Na última “bem-aventurança” (vers. 11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

«Vinde e farei de vós pescadores de homens»


3º Domingo do Tempo Comum


EVANGELHO – Mt 4,12-23

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso,
retirou-se para a Galileia.
Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum,
terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali.
Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer:
«Terra de Zabulão e terra de Neftali,
estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos Gentios:
o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz;
para aqueles que habitavam na sombria região da morte,
uma luz se levantou».
Desde então, Jesus começou a pregar:
«Arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo».
Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos:
Simão, chamado Pedro, e seu irmão André,
que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me
e farei de vós pescadores de homens».
Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O.
Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos:
Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu,
a consertar as redes.
Jesus chamou-os e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O.
Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas,
proclamando o Evangelho do reino
e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.

AMBIENTE
O texto que nos é proposto como Evangelho funciona um pouco como texto-charneira, que encerra a etapa da preparação de Jesus para a missão (cf. Mt 3,1-4,16) e que lança a etapa do anúncio do Reino.
O texto situa-nos na Galileia, a região setentrional da Palestina, zona de população mesclada e ponto de encontro de muitos povos. Refere, ainda, a cidade de Cafarnaum: situada no limite do território de Zabulão e de Neftali, na margem noroeste do lago de Genezaré, no enfiamento do “caminho do mar” (que ligava o Egipto e a Mesopotâmia), era considerada a capital judaica da Galileia (Tiberíades, a capital política da região, por causa dos seus costumes gentílicos e por estar construída sobre um cemitério, era evitada pelos judeus). A sua situação geográfica abria-lhe, também, as portas dos territórios dos povos pagãos da margem oriental do lago.

MENSAGEM
Na primeira parte (cf. Mt 4,12-16), Mateus refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de residência habitual, e se transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse facto um significado profundo, à luz de Is 8,23-9,1: a “luz” que havia de eliminar as trevas e as sombras da morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Na terra humilhada de Zabulão e Neftali, vai começar a brilhar a luz da libertação; e essa libertação vai atingir, também, os pagãos que acolherem o anúncio do Reino (para Mateus, é bem significativo que o primeiro anúncio ecoe na Galileia, terra onde os gentios se misturam com os judeus e, concretamente, em Cafarnaum, a cidade que, pela sua situação geográfica, é uma ponte para as terras dos pagãos). O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão universal.
Na segunda parte (cf. Mt 4,17-23), Mateus apresenta o lançamento da missão de Jesus: define-se o conteúdo básico da pregação que se inicia, mostra-se o “Reino” como realidade viva actuante, apresentam-se os primeiros discípulos que acolhem o apelo do “Reino” e que vão acompanhar Jesus na missão.
Qual é, em primeiro lugar, o conteúdo do anúncio? O versículo 17 di-lo de forma clara: Jesus veio trazer “o Reino”. A expressão “Reino de Deus” (ou “Reino dos céus”, como prefere dizer Mateus) refere-se, no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao exercício do poder soberano de Deus sobre os homens e sobre o mundo. Decepcionado com a forma como os reis humanos exerceram a realeza (no discurso profético aparecem, a par e passo, denúncias de injustiças cometidas pelos reis contra os pobres, de atropelos ao direito orquestrados pela classe dirigente, de responsabilidades dos líderes no abandono da aliança, de graves omissões no que diz respeito aos compromissos assumidos para com Jahwéh), o Povo de Deus começa a sonhar com um tempo novo, em que o próprio Deus vai reinar sobre o seu Povo; esse reinado será marcado – na perspectiva dos teólogos de Israel – pela justiça, pela misericórdia, pela preocupação de Deus em relação aos pobres e marginalizados, pela abundância e fecundidade, pela paz sem fim.
Jesus tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. O seu primeiro anúncio resume-se, para Mateus, no seguinte slogan: “arrependei-os ('metanoeite') porque o Reino dos céus está a chegar”.
O convite à conversão (“metanoia”) é um convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida, de modo a que Deus e os seus valores passem a estar no centro da existência do homem; só quando o homem aceita que Deus ocupe o lugar que lhe compete, está preparado para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.
Na sequência, Mateus apresenta Jesus a construir activamente o “Reino” (vers. 23-24): as suas palavras anunciam essa nova realidade e os seus gestos (os milagres, as curas, as vitórias sobre tudo o que rouba a vida e a felicidade do homem) são sinais evidentes de que Deus começou já a reinar e a transformar a escravidão em vida e liberdade.
Finalmente, Mateus descreve o chamamento dos primeiros discípulos (vers. 18-22). Não se trata, segundo parece (a comparação deste relato, que Mateus toma de Marcos, com os relatos paralelos de Lucas e João, mostra que estamos diante de um relato estilizado, cujo objectivo é pôr em relevo os passos fundamentais da vocação) de um relato jornalístico de acontecimentos, mas de uma catequese sobre o chamamento e a adesão ao projecto do “Reino”. Através da resposta pronta de Pedro e André, Tiago e João, propõe-se um exemplo da conversão radical ao “Reino” e de adesão às suas exigências.
O relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-l’O e lhes propõe uma missão.
A resposta dos quatro discípulos ao chamamento é paradigmática: renunciam à família, ao seu trabalho, às seguranças instituídas e seguem Jesus sem condições. Esta ruptura (que significa não só uma ruptura afectiva com pessoas, mas também a ruptura com um quadro de referências sociais e de segurança económica) indicia uma opção radical pelo “Reino” e pelas suas exigências.
Uma palavra para a missão que é proposta aos discípulos que aceitam o desafio do “Reino”: eles serão pescadores de homens. O mar é, na cultura judaica, o lugar dos demónios, das forças da morte que se opõem à vida e à felicidade dos homens; a tarefa dos discípulos que aceitam integrar o “Reino” será, portanto, libertar os homens dessa realidade de morte e de escravidão em que eles estão mergulhados, conduzindo-os à liberdade e à realização plenas.
Estes quatro discípulos representam todo o grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares… Eles devem responder positivamente ao chamamento, optar pelo “Reino” e pelas suas exigências e tornarem-se testemunhas da vida e da salvação de Deus no meio dos homens e do mundo.


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domingo, 16 de janeiro de 2011

«Ele é o Filho de Deus»


Ano A – II Domingo do Tempo Comum
16 de Janeiro de 2011



EVANGELHO – Jo 1,29-34

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
João Baptista viu Jesus, que vinha ao seu encontro, e exclamou:
«Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
Era d’Ele que eu dizia:
“Depois de mim virá um homem,
que passou à minha frente, porque existia antes de mim”.
Eu não O conhecia,
mas para Ele Se manifestar a Israel
é que eu vim baptizar em água».
João deu mais este testemunho:
«Eu vi o Espírito Santo
descer do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele.
Eu não O conhecia,
mas quem me enviou a baptizar em água é que me disse:
“Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e repousar
é que baptiza no Espírito Santo”.
Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».


AMBIENTE
A perícopa que nos é proposta integra a secção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Aí o autor, com consumada mestria, procura responder à questão: “quem é Jesus?” João dispõe as peças num enquadramento cénico. As diversas personagens que vão entrando no palco procuram apresentar Jesus. Um a um, os actores chamados ao palco por João vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, que possui o Espírito e que veio ao encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do Espírito. João Baptista, o profeta/percursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da secção – cf. Jo 1,19-37; 3,22-36). Ele vai definir aquele que chega e apresentá-lo aos homens. Ao não assinalar-se o auditório, sugere-se que o testemunho de João é perene, dirigido aos homens de todos os tempos e com eco permanente na comunidade cristã.

MENSAGEM
João é, portanto, o apresentador oficial de Jesus. De que forma e em que termos o vai apresentar?
A catequese sobre Jesus que aqui é feita expressa-se através de duas afirmações com um profundo impacto teológico: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.
A primeira afirmação (“o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” – Jo 1,29) evoca, provavelmente, duas imagens tradicionais extremamente sugestivas. Por um lado, evoca a imagem do “servo sofredor”, o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação (cf. Is 52,13-53,12); por outro lado, evoca a imagem do cordeiro pascal, símbolo da acção libertadora de Deus em favor de Israel (cf. Ex 12,1-28). Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens.
A ideia é, aliás, explicitada pela definição da missão de Jesus: Ele veio para tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A palavra “pecado” aparece, aqui, no singular: não designa os “pecados” dos homens, mas um “pecado” único que oprime a humanidade inteira; esse “pecado” parece ter a ver, no contexto da catequese joânica, com a recusa da proposta de vida com que Deus, desde sempre, quis presentear a humanidade (é dessa recusa que resulta o pecado histórico, que desfeia o mundo e que oprime os homens). O “mundo” designa, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão e que recusa a luz/vida que Jesus lhe pretende oferecer… Deus propôs-se tirar a humanidade da situação de escravidão em que esta se encontra; enviou ao mundo Jesus, com a missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão para a terra da liberdade.
A segunda afirmação (o “Filho de Deus” que possui a plenitude do Espírito Santo e que baptiza no Espírito – cf. Jo 1,32-34) completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o “cordeiro” é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito; e tem por missão baptizar os homens no Espírito.
Dizer que Jesus é o Filho de Deus é dizer que Ele é o Deus que se faz pessoa, que vem ao encontro dos homens, que monta a sua tenda no meio dos homens, a fim de lhes oferecer a plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar “o pecado” que torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.
Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. Por outro lado, a descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”). O quadro leva-nos aos textos do Deutero-Isaías, onde o “Servo” aparece como o eleito de Jahwéh, sobre quem Deus derramou o seu Espírito (cf. Is 42,1), a quem ungiu e a quem enviou para “anunciar a Boa Nova aos pobres, para curar os corações destroçados, para proclamar a libertação aos cativos, para anunciar aos prisioneiros a liberdade” (Is 61,1-2).
Jesus é, finalmente, aquele que baptiza no Espírito Santo. O verbo “baptizar” aqui utilizado tem, em grego, duas traduções: “submergir” e “empapar (como a chuva empapa a terra)”; refere-se, em qualquer caso, a um contacto total entre a água e o sujeito. “Baptizar no Espírito” significa, portanto, um contacto total entre o Espírito e o homem, uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe empapa o coração.
A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o homem; e o homem que adere a Jesus, “empapado” do Espírito e transformado por essa fonte de vida que é o Espírito, abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança o seu pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.
A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se para Jesus e a acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele faz: só a partir do encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final do Homem Novo.



In, Dehonianos, Liturgia

sábado, 8 de janeiro de 2011


Baptismo do Senhor
9 de Janeiro de 2011


EVANGELHO – Mt 3,13-17

Naquele tempo,
Jesus chegou da Galileia
e veio ter com João Baptista ao Jordão,
para ser baptizado por ele.
Mas João opunha-se, dizendo:
«Eu é que preciso de ser baptizado por Ti,
e Tu vens ter comigo?».
Jesus respondeu-lhe:
«Deixa por agora;
convém que assim cumpramos toda a justiça».
João deixou então que Ele Se aproximasse.
Logo que Jesus foi baptizado, saiu da água.
Então, abriram-se os céus
e Jesus viu o Espírito de Deus
descer como uma pomba e pousar sobre Ele.
E uma voz vinda do Céu dizia:
«Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus toda a minha complacência».



AMBIENTE

O Evangelho deste domingo apresenta Jesus a ir ao encontro de João Baptista e a ser baptizado no rio Jordão.
João foi o guia carismático de um movimento de cariz popular, que anunciava a proximidade do “juízo de Deus”. A sua mensagem estava centrada na urgência da conversão (pois, na opinião de João, a intervenção definitiva de Deus na história para destruir o mal estava iminente) e incluía um rito de purificação pela água – um rito muito frequente, aliás, entre alguns grupos judeus da época. Na perspectiva de João, os homens deviam arrepender-se; e foi para os chamar ao arrependimento que ele baptizou na água. Na perspectiva de João, recusar a conversão significava ser destruído pela cólera de Deus, como a palha queimada pelo fogo.
O que é que Jesus tem a ver com isto? Que sentido faz Ele apresentar-se a João para receber este “baptismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos pecados?

MENSAGEM

Para Mateus, o baptismo é um momento privilegiado da manifestação de Jesus aos homens: antes de começar a sua actividade, Jesus define-Se e apresenta-Se… A passagem tem duas partes: o diálogo entre João e Jesus (vers. 14-15) e a manifestação de Jesus como Filho de Deus (vers. 16-17). O diálogo entre João e Jesus (vers. 14-15) explica porque é que Jesus vem ao encontro de João para ser baptizado… Pela resposta de Jesus, fica claro que o seu baptismo é um passo necessário para que se cumpra o desígnio salvador de Deus (“convém que assim cumpramos toda a justiça”… O cumprimento da “justiça” equivale, no contexto da teologia mateana, ao cumprimento da vontade de Deus – cf. Mt 5,6.10.20;6,1.33;21,32). Jesus apresenta-Se, assim, como “Filho”, que cumpre rigorosa e absolutamente a vontade do Pai (na cultura semita, a obediência era aquilo que definia a relação entre um filho e um pai… “Cumprir a justiça” em relação ao Pai era, para um filho, obedecer-lhe incondicionalmente).
Que é que este baptismo tem a ver com o projecto salvador do Pai para os homens? Ao receber este baptismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos homens para os ajudar a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projecto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente.
Na segunda parte (vers. 16-17), temos uma reflexão sobre a identidade de Jesus e sobre a sua missão. Para isso, Mateus recorre a três elementos simbólicos muito expressivos: os céus abertos, o Espírito que desce em forma de pomba e a voz do céu.
A abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do Povo interrompeu. Desta forma, Mateus anuncia que a actividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.
O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da actividade que Jesus vai iniciar.
Temos, finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is 42,1) … Sugere-se, dessa forma, que Jesus é o Filho de Deus… Mas acrescenta-se, para que não haja equívocos: a sua missão não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3). A cena do baptismo de Jesus revela, portanto, essencialmente que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projecto de libertação em favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da actividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.
Além desta catequese sobre Jesus, o Filho de Deus, o texto sugere outras duas linhas importantes quanto à definição da identidade de Jesus. Uma delas apresenta Jesus como o novo libertador: o baptismo de Jesus no Jordão recorda a passagem do Mar Vermelho e estabelece um novo paralelo entre Jesus e Moisés… Jesus é o novo Moisés, revestido do Espírito de Deus, para conduzir o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade. A outra linha torna-se patente no diálogo entre João e Jesus: se João reconhece humildemente a sua inferioridade e a sua condição de percursor, é porque Jesus é esse Messias esperado, da descendência de David.



In Dehonianos, Liturgia