domingo, 27 de março de 2011

A minha alma glorifica o Senhor


«A minha alma glorifica o Senhor,

porque pôs os olhos na humildade da Sua serva»

Lc 1, 46-48

Não sei como começar!..
Eu, que em tempos fui tão dada à escrita, hoje em dia não consigo juntar duas palavras, mas acho que vale a pena o exercício. Há demasiada coisa cá dentro e é pouca a coragem para trazer todas as peças ao de cima, arregaçar as mangas e montar o puzzle. Vou tentar começar, mas não prometo nada. Sou uma agraciada pela imensa ternura de Jesus! Entre outras muitas coisas fantásticas que Ele tem feito comigo ao longo destes 22 anos, em ano e meio o bom Jesus levou-me por duas vezes até à Sua terra, àqueles lugares que seguramente têm um lugar muito especial no Seu coração, como têm para qualquer um de nós a casa materna, a nossa terra, os lugares que nos viram crescer, que nos recordam quem somos, de onde viemos, a matéria de que estamos feitos, como nos fizemos o que somos hoje.

Quando fui pela primeira vez a Israel, em setembro de 2009, fui com aquela sensação que tivemos todos alguma vez, em pequenos, ao receber aquele convite inesperado de um amigo que até nem era o melhor amigo, para ir lanchar a casa dele ou às vezes até ficar para dormir! – era o passo determinante para que aquele rapazinho ou rapariguinha fosse, a partir dali, o nosso melhor amigo! A partir dali criava-se uma intimidade que não tínhamos com mais ninguém e falávamos de coisas que mais ninguém compreendia, não podiam, não tinham estado lá, não viveram o que só nós tínhamos vivido naquele tempo juntos, só os dois.

Esta imagem comoveu-me em 2009 e agora esmaga-me ainda mais o facto de que Jesus, Deus do Universo, Senhor dos Céus e da Terra, o que venceu a morte, o que me salvou da miséria do pecado e me abriu as portas para uma Vida Nova, vem ao meu encontro, me convida para casa d’Ele, me quer mais perto, quer que conheça a intimidade da Sua casa, a Sua família, os lugares que ama e que O viram crescer. Jesus dá-Se a todo este trabalho (depois de tudo o que já fez!!) para que eu me digne olhá-l’O e Lhe abra as portas para essa intimidade para a qual fui feita, a única que me pode fazer feliz.

De facto, há Hics que são demasiado grandes para um coração pequenino como o meu, não cabe, não consigo apreciá-lo para além do esmagamento e da imensidão do seu significado. Mas entrego, porque é o que tenho, e, amorosamente, é só isso que Ele me pede. Ele fará depois o resto. Se for da Sua vontade, um dia compreenderei, isso tem que me bastar.

Parti de novo para a Terra Santa, tão pouco tempo depois, convencida de que iria reviver, relembrar, trazer de novo à memória e ao coração aquilo que ali tinha vivido em 2009 (e, ainda que com essa expectativa tão reduzida, ia feliz da vida!). Agora imagino que Jesus deve ter dado grandes gargalhadas com esta minha ideia tão pobresinha (‘Tadinha, não tás mesmo nada a ver o filme!...”). Pois é, Ele rapidamente me trocou o passo e, pouco a pouco, fui-me apercebendo que aqueles dias estavam a chegar cá dentro a um lugar que eu não sabia que existia, um lugar imenso que senti ser de Deus mas, ao mesmo tempo, estava algures aqui escondido dentro...!


Naquela semana, Jesus sentou-me num banquinho ao lado da mesa de trabalho d’Ele, vestiu o avental, ligou a roda, arregaçou as mangas e mostrou-me como, calmamente, o Oleiro amassa o barro e o molda com doçura, para que ele venha a ser aquilo que há-de ser.

Na semana seguinte a esta viagem, mal abri a boca, andava num qualquer lugar que era aqui mas não era; senti-me literalmente a regressar de um coma (acho que gostei daquele banquinho e as pernas estavam a fazer-se dificeis, não podiam mas também não queriam levantar-se!). Neste despertar, lento, em vez de voltar triste e saudosa de algo tão bom que tinha passado, dei por mim a acordar feliz!! Queria mesmo estar aqui... Sei que é estranho, pensei nisso muitas vezes, mas Jesus deu-Se ao trabalho de me vir explicar isso também: é que Ele não morreu, está vivo, Ressuscitou!!! O sepulcro está vazio!!! Melhor: Ele está HIC.


Esta foi a minha descoberta nesta viagem, o 5º Evangelho de que falava a Nônô, a vinda a cada dia de Deus ao meu encontro torna a minha vida um HIC, torna-me também a mim Terra Santa, lugar de Encarnação, de Anúncio, de morte e de Ressurreição. Não é uma memória que me alimenta, não é a saudade de sentimentos passados que me move, mas a Presença real de um Deus Vivo, que me chama, me interpela, me desafia a cada dia novo e só me pede que adira a Ele de coração inteiro, ainda que Lhe leve umas mãos cheias de nada. (No fundo o Pe Dário disse-nos isto todos os dias, naquela cristificação de que tanto falava, mas só agora é que vou assimilando, pouco a pouco, a imensidão do seu significado: a minha vocação é, realmente, ser igual a Cristo, com Ele). É por isso que me arde o coração cada vez que Ele vem ao meu encontro no meio do caminho e é por isto que, ainda que não perceba nada, não posso sair de junto daquelas palavras de vida eterna.

Oxalá, um dia, isto possa ser a realidade da vida de cada um de nós!.. Não acredito que cheguei ao fim.... Isto é inédito!! Foi a partilha de algo que ainda estou a descobrir, que ainda me espanta todos os dias, que ainda não acabei de assimilar, mas que foi naqueles dias convosco que começou.

Acabo com um grande OBRIGADO ao Tio Rui e ao Pe Dário, por este empenhamento e insistência em preparar o caminho para que o Senhor possa mudar a vida de quantos sejam chamados e adiram a este convite de ir à Terra de Jesus, de se tornarem Seus amigos íntimos. Obrigado também a todos os que contribuiram para a organização e riqueza destes dias, com não menos ilusión e vontade de preparar verdadeiros encontros priveligiados com o Senhor: Pedro, Sofia e Tia Ana. Obrigado também à Helena e à Geostar.

E um último obrigado a cada um dos que aceitaram este convite de Jesus, por aceitarem e por se terem deixado ser instrumentos tão especiais para que esta minha viagem fosse verdadeira Peregrinação.

Marta de Castro Corrêa d'Oliveira

Sem comentários:

Enviar um comentário