quinta-feira, 7 de outubro de 2010

São Jerónimo


S. Jerónimo, presbítero, cardeal, Doutor da Igreja, séc. IV

Nasceu em Estridon (Dalmácia, hoje Croácia) cerca do ano 340.
Tendo herdado dos pais uma pequena fortuna, aproveitou para realizar a sua vocação de amante dos estudos. Assim, viajou para Roma, onde procurou os melhores mestres de retórica e onde passou uma juventude um tanto livre. Ele mesmo nos refere com verdadeira dor os desvarios da sua juventude.
Um dos seus ideais mais intensos foi o cuidado de formar uma grande biblioteca. Outra das suas ocupações favoritas e que prova também o seu fundo sério e cristão, foi a de visitar os túmulos dos mártires. Nos Domingos, em companhia dos melhores amigos, visitava os labirintos escuros das Catacumbas, contemplava as capelas e esforçava-se por decifrar os epitáfios dos mártires.
Recebeu o baptismo do Papa Libério, já com 25 anos de idade. Viajando pela Gália, entrou em contacto com o monacato ocidental e retirou-se com alguns amigos para Aquiléia, formando uma pequena comunidade religiosa, cuja principal actividade era o estudo da Bíblia e das obras de Teologia.
São Jerónimo tinha um carácter indómito e gostava de opções radicais; desejou, portanto, conhecer e praticar o rigor da vida monástica que se vivia no Oriente, pátria do monaquismo. Esteve vários anos no deserto da Síria, entregando-se a jejuns e penitências tão rigorosas, que o levaram aos limites da morte.
Abandonando o meio monástico, dirigiu-se a Constantinopla, atraído pela fama oratória de São Gregório de Nazianzeno, que lhe abriu o espírito ao amor pela exegese da Sagrada Escritura. Por volta do ano 373 ou 374 resolveu lançar-se a uma peregrinação à Terra Santa mas uma prolongada doença obrigou-o a permanecer muito tempo em Antioquia da Síria, onde se especializou no estudo da lingual grega e prestou serviços relevantes ao bispo Paulino, que o quis ordenar sacerdote, no ano 379. No entanto, Jerónimo não sentia vocação à actividade pastoral e quase nunca exerceu o ministério sacerdotal. Tendo que optar entre a sua vocação inata de escritor e o chamamento à ascese monástica, encontrou uma conciliação entre estes extremos que marcaria o caminho da sua vida: seria um monge mas um monge para quem o retiro era ocasião para uma dedicação total ao estudo, à reflexão, à férrea disciplina necessária à produção da sua obra, que queria dedicar na sua totalidade à difusão do cristianismo. Dentro desta vocação e severa disciplina, estudou o hebraico com um esforço sobre humano e aperfeiçoou os seus conhecimentos do grego para poder compreender melhor as Escrituras nas línguas originais.
Chamado a Roma pelo Papa Dâmaso no ano 382, que o escolheu como secretário particular, recebeu do mesmo a incumbência de converter a Bíblia para o latim, graças ao conhecimento que tinha desta língua, do grego e do hebraico. O Papa desejava, de facto, uma tradução da Bíblia mais fiel em tudo aos textos originais, traduzida e apresentada num latim mais correcto, que pudesse servir de texto único e uniforme na liturgia. Até à altura existiam traduções populares muito imperfeitas e diversificadas, que criavam confusão.
O espírito de São Jerónimo fica bem retratado por estas frases que dirigiu ao Papa: “Eu mantenho-me unido a Sua Santidade, isto é, à Sé de Pedro. Sobre esta rocha sei que está fundada a Igreja. Fora da Igreja não há salvação. (…) Quem está fora da Igreja do Senhor, não pode ser puro”.
No ano de 385 São Jerónimo abandona Roma definitivamente, e toma, pela segunda vez, o caminho de Jerusalém. Depois de percorrer as colónias monásticas do deserto da Nítria, estabelece-se definitivamente em Belém, no ano de 386, onde viveu 34 anos numa contínua e incansável actividade literária, de oração e penitência.
O trabalho de São Jerónimo começado em Roma durou praticamente toda a sua vida. Na tradução, São Jerónimo revela um agudo senso crítico, um amor incontido à Palavra de Deus e uma riqueza de informações sobre os tempos e lugares relativos à Bíblia.
Como dele disse o Papa Bento XVI: A preparação literária e a ampla erudição permitiram que Jerónimo fizesse a revisão e a tradução de muitos textos bíblicos: um precioso trabalho para a Igreja latina e para a cultura ocidental. Com base nos textos originais em grego e em hebraico e graças ao confronto com versões anteriores, ele realizou a revisão dos quatro Evangelhos em língua latina, depois o Saltério e grande parte do Antigo Testamento. Tendo em conta o original hebraico e grego, a Septuaginta, a versão grega clássica do Antigo Testamento que remontava ao tempo pré-cristão, e as precedentes versões latinas, Jerónimo, com a ajuda de outros colaboradores, pôde oferecer uma tradução melhor: ela constitui a chamada "Vulgata", o texto "oficial" da Igreja latina, que foi reconhecido como tal pelo Concílio de Trento e que, depois da recente revisão, permanece o texto "oficial" da Igreja de língua latina.

Eis algumas das palavras de São Jerónimo que nos mostram a sua fidelidade, aplicada no seu trabalho: “Cumpro o meu dever, obedecendo aos preceitos de Cristo, que diz: Examinai as Escrituras e procurai e encontrareis, para que não tenha que ouvir o que foi dito aos judeus: Estais enganados, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus. Se, de facto, como diz o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, aquele que não conhece as Escrituras, não conhece o poder de Deus, nem a Sua sabedoria. Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”.
Até aos últimos momentos, São Jerónimo conservou clara a inteligência e vigorosa e firme a espada da pena. Faleceu a 30 de Setembro de 419 ou 420 perto de Belém, na sua cela, próximo à gruta da Natividade.
É reconhecido pela Igreja Católica como santo e Doutor da Igreja, e como santo pela Igreja Ortodoxa Oriental.

Ana Líbano Monteiro

Sem comentários:

Enviar um comentário