terça-feira, 26 de outubro de 2010

A IGREJA CATÓLICA NO MÉDIO ORIENTE




Terminou este Domingo em Roma o Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente, convocado pelo Papa Bento XVI. Enquanto aguardamos os textos finais vale a pena retomar um trecho do documento inicial (Lineamenta) que orientou os trabalhos dos padres sinodais.
O texto que escolhemos da Introdução descreve o percurso histórico das comunidades cristãs na Terra Santa. Vale a pena a sua leitura para nos situarmos com realismo perante a realidade que vamos encontrar.




A IGREJA CATÓLICA NO MÉDIO ORIENTE



1. Breve excursus histórico: unidade na verdade
Todas as Igrejas católicas no Médio Oriente, assim como cada comunidade cristã no mundo, remontam à primeira Igreja cristã de Jerusalém, unida pelo Espírito Santo no dia de Pentecostes. Elas dividiram-se no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia, principalmente por questões cristológicas. Antes da divisão, ela deu vida às Igrejas conhecidas hoje com o nome de "Igreja Apostólica Assíria do Oriente" (que era chamada nestoriana) e "Igrejas Ortodoxas Orientais", ou seja, as Igrejas coptas, sírias e arménias, que eram chamadas monofisitas. Muitas vezes estas divisões tiveram lugar também por motivos político-culturais, como mostram os teólogos medievais do Oriente pertencentes às três grandes tradições denominadas "melquitas", "jacobitas" e "nestorianas". Todos eles ressaltaram que na base desta divisão não havia algum motivo dogmático. Em seguida, deu-se o grande cisma do século XI, que separou Constantinopla de Roma e, sucessivamente, o Oriente Ortodoxo do Ocidente Católico. Todas estas divisões ainda hoje existem nas várias Igrejas do Médio Oriente.
Depois das divisões e das separações, foram empreendidos periodicamente esforços para reconstruir a unidade do Corpo de Cristo. Neste esforço de ecumenismo formaram-se as Igrejas católicas orientais: arménia, caldeia, melquita, síria e copta. No início estas Igrejas foram tentadas pela polémica com as Igrejas ortodoxas irmãs, mas com frequência foram também fervorosas defensoras do Oriente cristão.
A Igreja maronita manteve a própria unidade no âmbito da Igreja universal e não conheceu, no decurso da sua história, uma divisão eclesial interna. O Patriarcado Latino de Jerusalém, instituído com as Cruzadas, foi restabelecido no século XIX, graças à presença contínua dos Padres Franciscanos, sobretudo na Terra Santa, desde o início do século XIII.
Hoje as Igrejas católicas do Oriente são sete, na maioria árabes ou arabizadas. Algumas delas estão presentes também na Turquia e no Irão. Provêm de tradições culturais, e portanto também litúrgicas, diferentes: grega, síria, copta, arménia ou latina, o que constitui a sua admirável riqueza e complementaridade. Elas estão unidas na mesma comunhão com a Igreja universal em volta do Bispo de Roma, sucessor de Pedro, corifeu dos apóstolos (hâmat ar-rusul). A sua riqueza deriva da sua própria diversidade, mas o excessivo apego ao rito e à cultura pode empobrecê-las. A colaboração entre os fiéis é habitual e natural, a todos os níveis.



2. Apostolicidade e vocação missionária
De resto, as nossas Igrejas são de origem apostólica e os nossos países foram o berço do Cristianismo. Como disse o Santo Padre Bento XVI a 9 de Junho de 2007, elas são guardiãs viventes das origens cristãs[1]. São terras abençoadas pela presença do próprio Cristo e pelas primeiras gerações cristãs. Seria uma perda para a Igreja universal se o Cristianismo desaparecesse ou se debilitasse precisamente lá onde nasceu. Temos neste aspecto uma grave responsabilidade: não só manter a fé cristã nestas terras santas, mas ainda mais, manter o espírito do Evangelho nestas populações cristãs e nas suas relações com as não cristãs, e conservar a memória das origens.
Enquanto apostólicas, as nossas Igrejas têm a missão particular de anunciar o Evangelho a todo o mundo. Ao longo da história, este impulso estimulou diversas das nossas Igrejas: em Núbia e na Etiópia, na Península Arábica, na Pérsia, na Índia, até à China. Hoje devemos verificar que este impulso evangélico com frequência é contido e a chama do Espírito parece ter-se debilitado.
Agora, para a nossa história e a nossa cultura, estamos próximos de milhões de pessoas, quer cultural quer espiritualmente. Portanto, compete a nós partilhar com eles a mensagem de amor do Evangelho que recebemos. Neste momento no qual populações inteiras estão desorientadas e procuram um indício de esperança, nós podemos dar-lhes a esperança que está em nós pelo espírito que foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5).



3. Papel dos cristãos na sociedade, apesar de serem uma minoria
Não obstante as suas diferenças, as nossas sociedades árabes, turcas e iranianas têm características comuns. A tradição e o modo de vida tradicional prevalecem, sobretudo no que se refere à família e à educação. O confessionalismo marca tanto as relações entre os cristãos como com os não-cristãos e reflecte-se profundamente nas mentalidades e nos comportamentos. A religião é um elemento de identificação que pode separar do outro.
A modernidade penetra cada vez mais na sociedade: o acesso às redes televisivas do mundo e a Internet introduziram, na sociedade civil e entre os cristãos, novos valores mas também uma perda de valores. Como resposta, difundem-se cada vez mais os grupos fundamentalistas islâmicos. O poder reage com o autoritarismo, com o controle da imprensa e da mídia, enquanto a maioria aspira por uma verdadeira democracia.
Apesar de os cristãos serem em todas as partes do Médio Oriente uma escassa minoria (com excepção do Líbano), que vai de menos 1% (Irão, Turquia) a 10% (Egipto), contudo eles irradiam dinamismo activo. O perigo consiste no fechamento em si e no receio do outro. Por isso, é necessário que fortaleçamos a fé e a espiritualidade dos nossos fiéis e, ao mesmo tempo, reforcemos o vínculo social e a solidariedade entre eles, sem cair numa atitude guetizante. Por outro lado, a educação é o maior investimento. As nossas Igrejas e as nossas escolas poderiam ajudar mais os menos afortunados.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2009




In, www.vatican.va

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