domingo, 8 de agosto de 2010

«Verbum Caro HIC Factum Est»



«Verbum Caro Hic Factum Est», é o que lemos, gravado na pedra branca do altar, dentro da casa que foi a de Maria e que quer dizer: Aqui, o Verbo Se fez carne. Este «HIC», este “aqui”, esta pequena partícula, faz toda a diferença.
Quando Deus decidiu enviar o seu próprio Filho ao encontro dos homens, quis, que Ele incarnasse, que Ele tomasse plenamente a nossa condição como qualquer outro ser humano. Escolheu um tempo, um lugar e uma mulher que aceitasse ser sua Mãe. Era imperador de Roma César Augusto quando, em Nazaré, pequenino lugar da Galileia, Maria, filha de Ana e Joaquim, recebeu em sua casa o anjo Gabriel a anunciar-lhe: «Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus» A entrada de Deus na História tem pois um lugar concreto que nos permite pronunciar de coração comovido: foi aqui!
A certeza quanto à veracidade do lugar é pacífica entre arqueólogos e historiadores, remontando ao séc. I os primeiros vestígios de que os cristãos veneravam aquele lugar. Ali se construíram quatro templos, sucessivamente destruídos, até que, em 1739, os Franciscanos conseguem construir uma Igreja que perdurará até ser demolida em 1959, para dar lugar à actual Basílica. Não espanta pois que seja este o lugar onde deve começar uma Peregrinação aos Lugares Santos.
Quem se aproxima de Nazaré cedo surpreende, bem no centro da encosta por onde se espraia a cidade, a enorme cúpula piramidal que se ergue da basílica. É de olhos fixos nela que somos guiados até chegarmos aos seus portões. Ao entrar, somos recebidos pelo silêncio. Um ambiente de luz coada que desce da cúpula deixa-nos perceber o essencial do espaço que nos rodeia e atrai-nos para centro onde encontramos, discreta, a casa de Maria, o lugar do encontro, as paredes que foram testemunhas do SIM mais definitivo da História. Se o ambiente é de silêncio, é também silêncio o que nos pede o coração enquanto, devagar, quase a medo, nos aproximamos daquele recanto abençoado. De joelhos ali ficamos o tempo que nos deixarem, infelizmente, sempre pouco. A presença de Maria faz-se sentir de um modo único. Uma imensidão de pensamentos, entre pedidos e agradecimentos, tornam-se presentes. Caras de pessoas, histórias de vida, dramas e sofrimentos, tudo rodopia dentro de nós, como obrigações a cumprir. A pouco e pouco, a serenidade do lugar impõe-se, o turbilhão desvanece-se e há uma paz que se começa a fazer sentir. Quando chamam por nós, porque outras coisas há para ver, juramos que um dia ali voltaremos, com tempo, com muito tempo para ficar, ficar, ficar…
O resto da Basílica vive daquele centro nuclear que se projecta em painéis e altares a proclamar a universalidade da glória de Maria, Mãe dos homens e Mãe da Igreja. Testemunhos da devoção mariana nos quatro cantos do mundo enchem as paredes e deixam-nos perplexos ao tomarmos consciência da força da notícia que dali saiu há dois mil anos. O que pode a humildade, o que pode a confiança, o que pode a graça, o que pode um SIM, o sim mais livre da História!
Aqui em Nazaré, deu-se esse encontro inesperado e inimaginável, entre o Deus Criador e Senhor do Mundo e da História com a infinita pequenez da condição humana. Nesse encontro, nascido da vontade do Pai em recuperar o homem para a sua intimidade, cumpriu-se a promessa longamente esperada: n’Aquele Menino então concebido, era-nos dado o Salvador prometido.
Dentro de Maria nascia uma Vida. Naquele embrião infinitamente pequeno habitava a totalidade, a omnipotência, a plenitude. A partir daquele dia, naquela casa meia gruta, habitava o Mistério. Só Maria o sabia, depois José, depois provavelmente os seus pais, Ana e Joaquim. Durante nove meses aquela barriga que crescia como a das outras mães da aldeia, foi um sacrário e aquela casa, uma catedral.
A poucas centenas de metros de distância ficava a casa de José, com a sua carpintaria, que viria a ser o lugar mais longamente habitado por Jesus. Não sabemos porque é que não sabemos o que foram esses trinta anos passados em Nazaré. Porque é que foram tantos os anos de apagamento e tão poucos os de ensino? Como sempre, somos especialistas em perguntas com que nos distraímos das coisas grandes que ali nos foram reveladas. Na casa de S. José que foi casa da Sagrada Família experimentamos a humildade. Não havia maior grandeza em toda a orbe, porém, quem os via, via uma família igual às outras a viver a normalidade dos seus dias. É disto que é feita Nazaré: silêncio, interioridade, simplicidade, humildade, serenidade… paz.
O Menino aqui concebido é aquele que há-de morrer numa Cruz e ressuscitar na manhã de Páscoa e assim Nazaré une-se misteriosamente a Jerusalém, onde tudo ganhará sentido.

Rui Corrêa d’Oliveira

7 comentários:

  1. E Deus, todo poderoso, se fez carne como cada um de nós para salvar a todos.

    ResponderEliminar
  2. Encantador ler e ouvir os detalhes de nossa fé.

    ResponderEliminar
  3. Encantador ler e ouvir sobre os mistérios e acontecimentos de nossa fé.

    ResponderEliminar
  4. A Condição Divina desceu a terra e habitou no meio de Nós.
    Lindíssimo texto .

    ResponderEliminar
  5. Linda descricao do texto.
    Obrigado por nos dá a oportunidade de experimentar, através das palavras, o verdadeiro sentido da frase "Verbum Caro HIC Factum Est".
    Foi especial para mim, para minha fe, ler esse texto.
    A Paz!

    ResponderEliminar
  6. Nossa!!
    Ler esse texto e relembrar os momentos vividos lá e vivê-los novamente.
    Obrigada Jesus, por me proporcionar momentos únicos e que verdadeiramente eu possa voltar aquele lugar lindo em que tudo começou... que todos que tenham o sonho de conhecer, não desistam, façam de tudo para realizar....

    ResponderEliminar