domingo, 26 de dezembro de 2010

«Paz e bem!»


Paz e bem: A saudação de São Francisco ajuda-nos a saborear a eterna novidade do Natal, acompanha-nos para a verdade, afastando-nos de tudo aquilo que empobrece e torna ambíguo o significado desta festa. Não deixemos que passe em vão este enésimo, embora sempre novo, Natal.
O Natal não pode deixar de inquietar-nos: é uma festa que parece ter perdido seu sentido mais íntimo e autêntico, e que nos leva a perguntar quem é para nós aquele menino, a ver Deus num menino, a crer num Deus que escolhe encerrar toda a Sua grandeza na pequenez da nossa humanidade.

E o Natal não é somente Jesus que nasce em Belém, onde nasceu historicamente há pouco mais de dois mil anos atrás. Natal é Jesus, Filho de Deus, que também este ano como em cada dia desde aquele tempo antigo, para os homens do seu tempo como para cada um de nós hoje, espera que lhe guardemos um lugar, espera nascer no nosso coração. O Natal é um compromisso de conversão. É aceitar responder ao que Deus de nós espera.
Chamados pela fé a esperá-lo na glória, o Natal vem fixar a nossa atenção na espera de Deus: a Sua infinita espera de que a humanidade encontre um lugar para Ele na história quotidiana, na vida de todos os dias, na solidariedade humilde que nos pediu o próprio Jesus, assegurando-nos: Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo; dizendo-nos também onde podemos encontrar os seus olhos e as suas mãos, por onde caminhar juntos e de onde dirigir o nosso olhar para o horizonte do qual Ele voltará: pobres sempre os tereis convosco …

Não o deixemos passar em vão.
Que a palavra de Deus nos ajude e nos guie a conservar a esperança, enquanto esperamos que venha o Senhor da Glória.
O Menino Jesus nos livre do medo de estar no dia-a-dia da história, na solidão de quem não sabe fazer-se dom aos outros, e nos reúna num movimento coral onde nos descobrimos levados pelo amor e capazes, por graça, de levar avante aquele pedacinho da história, único e precioso, que o Senhor colocou nas nossas mãos.
Que o Natal seja para todos esta conversão do nosso olhar, darmo-nos conta de que o Reino avança, é já presente; que eu, nós, todos juntos, possamos fazer com que se torne presente. Eis agora a necessidade de olhar a criação, olhar o mundo, olhar o Médio Oriente, esta “nossa” Terra Santa – Terra de Deus e Terra dos Homens – “do alto”, com o olhar de Deus. Façamos nossa, com intensidade e audácia, humildade e força, com a coragem e a fantasia do sonho que se torna realidade se formos muitos a sonhá-lo, as palavras do Papa Bento XVI na inauguração do Sínodo dos Bispos do Médio Oriente: “olhar esta parte do mundo pela perspectiva de Deus significa reconhecer nela o berço de um desígnio universal de salvação no amor, um mistério de comunhão que se realiza na liberdade e por isso pede aos homens uma resposta”. A cada um é dada a responsabilidade de acolher a proposta d’Aquele que nos criou e que renova em nós, em cada dia, a sede de sermos felizes.

Não o deixemos passar em vão. Respondamos à espera de Deus, que Se fez Menino para que pudéssemos chegar até Ele como se fosse Ele a necessitar de nós. Porque o coração da nossa espera está no saber que Deus nos espera, pacientemente, desde há muito. Acolhidos pela Sua espera, renovados pelo Seu perdão e pela Sua graça, homens de misericórdia e de reconciliação, de liberdade e de justiça, seremos então capazes de escutar – entre o ruído da nossa confusa realidade – o anúncio dos anjos: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.»

Feliz Natal!


Jerusalém, 22 de Dezembro de 2010

Frei Pierbaptistta Pizzaballa
Custódio da Terra Santa

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