sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

S. José e a Virgindade de Maria


É preciso compreender que, numa sociedade em que a virgindade não era nem conhecida nem salvaguardada (pois nenhuma instituição a preservava, modelo algum a consagrava), o voto de Maria só poderia ser efectivado no casamento. O matrimónio tornara-se, então, uma necessidade: ela só poderia cumprir o desígnio escolhido, na realização do seu casamento: somente o casamento poderia constituí-la virgem.


Porém, como este enlace não podia ser contra a sua vocação virginal, Maria supunha que aquele que lhe fora designado como esposo, pela família, compreenderia e respeitaria o seu ideal. Este acto de abandono era, então, igualmente, um c de fé.

Eu presumo que os dois, José e Maria, eram jovens e plenamente conscientes, habitando o presente com inteira disponibilidade, sem conhecer o extraordinário futuro que os aguardava. Imagino José jovem, forte, silvestre e vivaz, assim como o pastor libanês descrito no Cântico dos Cânticos.

Por que não teria ele amado? Nem obtido o retorno do amor? (...)
Sem dúvida, José tinha o sentimento de afinidade com aquela jovem, e sentia a imensa superioridade dela sobre ele. O amor do homem é modelado conforme o amor da mulher, que é a silenciosa educadora do estímulo viril. Maria purifica e “virginiza” José, assim como ”virginizaria” tantos jovens, com o seu sorriso, e a estirpe sacerdotal, que lhe deve a conservação do estado da virgindade viril, aqui na terra.

José e Maria haviam renunciado à paternidade e à maternidade; eles não sabiam o que os cercava, em termos de fecundidade nesse sacrifício; eles não tinham como pressentir o Inominado, o Incompreensível que sobreviria, serenamente, entre os dois.

E, no entanto, a união entre José e Maria, não se assemelhava a uma união fechada em si mesma, como se fosse uma clausura, um claustro para duas pessoas ou para uma, somente. Esta união seria dominada pela esperança. Devia haver entre os dois, o pressentimento de que um mundo novo nasceria da harmonia e da concordância entre ambos.


Jean Guitton
La Vierge Marie
Editions Montaigne, 1949

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