quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O voto de virgindade de Maria (I)


Conhecemos muito pouco sobre a adolescência de Maria. Distinguimos, apenas, um facto, o que nos basta para adivinhar a sequência: trata-se do voto de virgindade que fizera e que ela refere ao anjo, logo no início da sua visita, com uma entonação que pode parecer um pouco estranha.
Isso indica um desígnio, um propósito amadurecido. E, se pudermos supor como esse seu desígnio é verdadeiro, genuíno, apesar dos seus quinze anos, devemos imaginar que ela era criança precoce tendo, bem cedo, sondado a existência, e percorrido, com sábia maturidade, as dimensões da vida.
Para julgar esse propósito de se manter virgem e compreender a agudeza de espírito, convém lembrar a mentalidade dos Judeus, em relação à virgindade. A primeira lei do Criador ditava: “Crescei e multiplicai-vos.” E o primeiro instinto do povo escolhido (que se confundia com o seu primeiro e principal dever) era o de se comportar como povo, garantindo, então, a sobrevivência.
A mulher judia não conhece opóbrio maior do que a esterilidade, que é sinal do desprezo de Deus por ela. E, como não é possível conceber uma nova geração sem a carne, o ser que não pode procriar é um ser diminuído, desprezado, privado da imortalidade temporal, tendo fracassado em sua missão. Nós temos dificuldade em compreender esta ideia, este modo de agir, pois estamos impregnados do Cristianismo e nele não podemos deixar de projectar novas luzes sobre antigas sombras.


Jean Guitton
A Virgem Maria, pp 27-28
Edições Montaigne, 1949
In www. mariedenazareth.org

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